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sábado, dezembro 27, 2008

Dez Coisas que Levei Anos para Aprender

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender
1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.
2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.
3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.
5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.
6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.
7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".
8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".
9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.
10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o AMOR existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!

Luís Fernando Veríssimo
FELIZ NATAL!!!
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

quarta-feira, dezembro 17, 2008

O torcedor são-paulino e a PM/DF

O SARGENTO DA PM/DF, O TENENTE DO EXÉRCITO E OS MALSINADOS TORTURADORES.

Ternuma Regional Brasilia
Gen Bda R1 Valmir Fonseca AZEVEDO Pereira

Um jovem torcedor do São Paulo Futebol Clube está entre a vida e a morte num Hospital de Brasília. Sua desdita à entrada do Estádio "Bezerrão" foi filmada para comprovar uma coleção infindável de erros perpetrados pela desastrosa ação da Polícia Militar do DF, a mais bem remunerada do País. A perseguição que um possesso Policial Militar empreende para deter o jovem é grotesca, animalesca e boçal. Arma em punho, o Agente, em desabalada carreira, persegue o desditado torcedor por um longo trecho.A arma em riste é apontada todo o tempo para a cabeça do fujão. Depois, a coronhada nas costas e, pasmem o inexplicável (?) estampido. Aos pasmos, lembramos que para a realização do infeliz disparo, a arma precisava estar alimentada, estava. Precisava estar carregada, estava. Precisava estar destravada, estava.Sem críticas à Corporação Policial, observamos que ela blindou seu integrante com singular rapidez. Choveram elogios ao Sargento, sem reparos na carreira, com diversos cursos, com experiência, bem capacitado ao exercício de sua profissão (ainda bem) etc.Em uníssono, a vetusta entidade corporativa pôs-se em guarda. Ao invés de execrar seu incompetente membro, deu-lhe transparente suporte. À ineficiência, denominada de "infeliz ação". Ao fatídico disparo considerou-se como "artes do oficio" (ou do demônio, como queiram). Enfim, uma lamentável fatalidade.O graduado, com espantosa presteza, representado por competente advogada que no dia seguinte em noticiário televisivo do horário nobre saiu em sua defesa, e, em conseqüência, foi imediatamente solto (ainda está). A Corporação, ciosa com o seu bem-estar apressou-se em proporcionar-lhe intenso suporte psicológico, uma vez que o pobre coitado está com os nervos em frangalhos. Assim, assistimos a uma tenebrosa e inesquecível tragédia. De acordo com a Polícia Militar, o Sargento é tão vitima quanto o desastrado torcedor que fugiu desavergonhadamente.Pobre Sargento.Enquanto isso...O Tenente do Exército, Vinícius Ghidetti que entregou os três marginais de uma favela do Morro da Providência aos seus oponentes de outra, alguns meses atrás, após ser linchado pela mídia e execrado pela opinião pública foi e continua encarcerado.Lembramos que o Oficial, jovem e inexperiente, cumpria no Morro, ao contrário do infausto Sargento, com muitos anos de experiência, uma missão que não lhe era precípua. Atendia, equivocadamente, uma missão claramente policial.Quanto ao Exército, sem a presteza da Polícia Militar, quase em surdina, sem alarde para não ofender a ninguém (Esclarecimento ao Público Interno NR 006 - de 08 de julho de 2008, do Chefe do CCOM SEX), com tímidos e envergonhados gestos acenou estar prestando ao jovem Oficial, algum tipo de apoio.Muitos consideram sensata a atitude da Força Terrestre, inibida pela onda de estudada indignação que tomou conta das nossas Autoridades Governamentais (aqui vai um especial e sonoro "Hurra" para as Organizações e Secretarias de Direitos Humanos), a começar pelo 1º Mandatário. Multiplicaram-se os pedidos de desculpas às mães dos infelizes, inclusive da parte do espaçoso e magnânimo Ministro da Defesa, disposto a minimizar um "lamentável" deslize de uma das Forças Singulares a ele subordinadas, tudo coberto à larga por copiosa imprensa. Conforme comprovado, posteriormente, aquelas chorosas e indignadas senhoras eram detentoras de vasta folha policial. Ao Tenente, sem desculpá-lo, pois cometeu um tremendo erro no exercício de sua missão, e como Comandante cabe-lhe a responsabilidade por seus atos, contudo, prestamos-lhe o nosso apoio e a nossa solidariedade.Da mesma forma, como apoiamos os militares acusados de torturadores, sem culpá-los, pois sabemos que não torturaram e cumpriam a Missão Constitucional de preservar a Lei e a Ordem, e foram incluídos no "índex" da esquerda revanchista, simplesmente, por que tiveram alguma participação no combate ao terrorismo.Ao que tudo indica, o Exército Brasileiro, quando se trata de defender seus integrantes, morre de vergonha!
Brasília, DF, 11 de dezembro de 2008.
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

terça-feira, dezembro 09, 2008

Liderança está tão em falta quanto o crédito

1 de Outubro de 2008 - Em 1933, Franklin Roosevelt herdou uma crise econômica. Ele entendeu que sua primeira tarefa era restaurar a confiança, passar às pessoas a percepção de que alguém estava no comando, que algo seria feito.Essa geração de líderes políticos confronta uma situação similar, e, até agora, de forma cabal e catastrófica, eles não conseguiram projetar qualquer percepção de autoridade, dar ao mundo qualquer motivo para acreditar que esse país está sendo governado. Em vez disso, ao rejeitarem o pacote de resgate na segunda-feira, eles tornaram o clima psicológico muito mais grave.Depois de gastar todo seu prestígio com republicanos e democratas, George W. Bush perdeu completamente seu poder de influência. O secretário do Tesouro, Henry Paulson, é inteligente como financista, mas inepto como legislador. Ele foi avisado sucessivas vezes que os republicanos da Câmara dos Representantes não dariam apoio ao seu projeto de lei, e sua resposta foi cair de joelhos perante a presidente da casa, Nancy Pelosi.Os líderes dos dois partidos na Câmara estavam completamente imersos nas suas próprias negociações, mas ocorreu a qualquer um deles que pode ser difícil aprovar um projeto de lei descrito como uma operação de resgate para Wall Street? Estava o querido da mídia Barney Frank ocupado demais para notar os 95 democratas que se opuseram ao seu projeto de lei? O discurso fervoroso de Pelosi no momento decisivo não matou de verdade esse projeto de lei, mas ela tinha de agir como levantadora de fundos para o Partido Democrata no momento mais importante de sua carreira?E vamos dar o devido reconhecimento a todos os 228 representantes que votaram não - os autores dessa revolta de niilistas. Eles mostraram ao mundo o quanto detestam seus próprios líderes e o conhecimento acumulado pelo Departamento do Tesouro e pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Eles praticaram a ação popular do momento, e se o país entrar num período de profunda recessão, eles terão o tempo livre para ver a opinião pública se voltar contra eles.Os republicanos da Câmara dos Representantes lideraram o caminho e receberão a maior parte da culpa. Tem sido interessante observá-los na missão resoluta de destruir o Partido Republicano. Há não muito tempo, eles lideraram uma cruzada anti-imigração que afastou o apoio dos hispânicos. Daquela vez eles também ouviram as vozes mais clamorosas e iradas do partido, ignorando as complicadas ansiedades que se ocultam nas mentes da maioria dos americanos.Agora eles confundiram mais uma vez o que se diz nos programas de rádio com a realidade. Se a economia entrar em declínio, eles entrarão para a história como os Smoot-Hawleys do século XXI. Com essa votação, eles recebem responsabilidade por essa economia, e serão responsabilizados. Os golpes de curto prazo serão desferidos em John McCain, a pressão de longo prazo será exercida sobre a existência do Partido Republicano, tal como o conhecemos.Tenho conversado com diversos republicanos da Câmara dos Representantes nos últimos dias e causa admiração como a maioria acredita nos princípios do livre mercado. O triste é que ainda pensam que estamos em 1984. Ainda acreditam que a maior ameaça vem do socialismo e do liberalismo estilo Walter Mondale. Parecem não ter notado como os fluxos de capitais globais têm transformado nossa política econômica.Vivemos numa era em que um vasto excesso de capital transborda ao redor do mundo estimulando ciclos de bolhas e estouros de bolhas. Quando o capital inunda um setor ou uma economia, arrasta consigo práticas sóbrias de negócios, e hábitos de disciplina e abnegação. Então os gestores de recursos entram em pânico e o capital é retirado, punindo igualmente os justos e os injustos.O que necessitamos nessa situação é de autoridade. Não a mão pesada da regulamentação governamental, mas a firme e poderosa mão de algumas instituições públicas que podem proteger contra as influências corruptoras do dinheiro fácil e então impedir os contágios destrutivos quando o crédito seca.O plano do Congresso não era o preferido de ninguém, mas era um esforço para afirmar alguma autoridade. Era um esforço para alterar a psicologia dos mercados. As pessoas não confiam nos bancos; os banqueiros não confiam uns nos outros. Era um esforço para resolver a crise de autoridade em Washington. Pelo menos poderia ter estabilizado a situação de modo que as reformas fundamentais da arquitetura financeira do mundo poderiam ser empreendidas posteriormente.Mas os 228 membros da Câmara dos Representantes que votaram não exacerbaram a queda livre psicológica global, e agora temos uma crise de autoridade política além da crise de autoridade financeira.A única coisa a fazer agora é tentar novamente - resgatar o resgate. Não há tempo para encontrar um novo pacote, então o plano do Congresso deve ir novamente a votação amanhã, desta vez com adendos que podem alterar suas perspectivas políticas. Os líderes têm de adicionar provisões para sustentar os preços das residências e ajudar diretamente os detentores de hipotecas. Martin Feldstein e Lawrence Lindsey têm boas propostas do tipo que podem resultar numa coalizão plausível da maioria. Também será bom relaxar as regras de seguro de depósitos.Se isso não ocorrer, o mundo pode se preparar para tempos econômicos duros (os europeus, aparentemente, ainda nem começaram a reconhecer seus títulos de dívidas tóxicos) - mas também tempos políticos duros.O século americano foi criado pela liderança americana, que hoje em dia está mais escassa do que o crédito.
FONTE:
Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13 - David Brooks - The New York Times.
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES.
Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

sábado, novembro 22, 2008

Ditados do Século XXI

Está na hora de modernizarmos nossos ditados!!!!
Sob pena de descobrirem a nossa idade.....
.
A pressa é inimiga da conexão.
Amigos, amigos, senhas à parte.
Antes só que em chats aborrecidos.
A arquivo dado não se olha o formato.
Diga-me que chat frequentas e te direi quem és.
Para bom provedor uma senha basta.
Não adianta chorar sobre arquivo deletado.
Em briga de namorados virtuais não se mete o mouse.
Em terra off-line, quem tem discada é rei.
Hacker que ladra não morde.
Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.
Mouse sujo se limpa em casa.
Melhor prevenir do que formatar.
O barato sai caro e lento.
Quando a esmola é demais, tem vírus anexado.
Quando um não quer, dois não teclam.
Quem ama um 486, Core duo lhe parece.
Quem clica seus males multiplica.
Quem com vírus infecta, com vírus será infectado.
Quem envia o que quer, recebe o que não quer.
Quem não tem banda larga, caça com discada.
Quem nunca errou, que aperte a primeira tecla.
Quem semeia e-mails, colhe spams.
Quem tem dedo vai a Roma.com
Um é pouco, dois é bom, três é chat.
Vão-se os arquivos, ficam os back-ups.
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES.

domingo, novembro 16, 2008

Como fazer uma Dissertação de Mestrado

Em tempos de Mestrado, não sobra muito tempo para produzir alguma coisa "original" e nem falar sobre outras coisas mais "interessantes", assim, resolvi postar esse texto para compartilhar algumas dicas com meus colegas de Mestrado. Vamos lá para uma pitadinha de humor!
Como fazer uma Dissertação de Mestrado em Informática na Educação: Uma análise reflexiva sobre a ironia do processo

Raul Sidnei Wazlawick, Dr.
(Autor especialmente convidado: Luiz Fernando Jacintho Maia, Dr.)
UFSC-CTC-INE

ABSTRACT

Após acompanhar o processo de desenvolvimento de várias dissertações de mestrado e várias bancas avaliadoras, após conversar com alguns colegas e perceber que todos enfrentam situações semelhantes com seus orientados, chegamos à conclusão de que seria necessário escrever um pequeno ensaio sobre o processo de realização de um mestrado, especificamente na área de informática na educação.
Este trabalho utiliza a ironia, o que para quem não sabe, é uma forma de discurso que busca usar o humor para trazer uma mensagem. Como existe muita gente sem senso de humor é necessário deixar bem claro que os conselhos deixados abaixo não são para ser seguidos em sua forma literal. Eles trazem mensagens implícitas, que se você olhar com discernimento poderá perceber fatos e situações que acreditamos são quotidianas na vida acadêmica. Outros fatos e situações são completamente irreais, mas nós os achamos engraçados e incluímos assim mesmo.
Este trabalho é direcionado aos estudantes de mestrado, especialmente aos de informática na educação, que poderão achar aqui excelentes dicas sobre o que não se deve fazer durante o mestrado.
Não pretendemos aqui ridicularizar pessoas reais, mas se você se identificar com alguma das situações descritas abaixo, bem... quem mandou você agir assim? Não nos culpe!
O Processo de Orientação

Como se Comunicar com o Orientador

Durante o mestrado é interessante que você desapareça por uns três ou quatro meses, e depois telefone para o seu orientador, de preferência em um sábado à noite ou domingo pela manhã, para dizer que está desesperado com o seu trabalho. Orientadores adoram ouvir que seus alunos estão desesperados. Isso os deixa satisfeitos, pois cumpriram seu primeiro dever, que é o de desesperar os alunos. Você já deve ter percebido isso, quando após a primeira conversa seu orientador lhe passou 45 artigos em inglês e 2 livros em eslovaco para você ler e apresentar uma análise crítica em duas semanas.
Bem, depois de ficar feliz com sua condição atual, seu orientador vai perguntar o que você fez nestes três ou quatro meses. Diga que você não teve muito tempo (ou seja, nenhum tempo) para dedicar à dissertação porque:

a) O serviço na firma tem lhe ocupado muito;
b) Você viajou muito;
c) Você teve problemas em casa;
d) Você está com fobia de dissertação e a psicóloga ainda não conseguiu tratar isso;
e) O cachorro comeu seu trabalho; ou
f) Qualquer outra desculpa esfarrapada.

Outra forma interessante de abordar seu orientador é lhe enviar um e-mail e quinze minutos depois ligar para ele perguntando se ele leu o seu e-mail. Como ele certamente não leu, porque estava fazendo coisas menos importantes, isso já o deixa na defensiva.
Mas se você realmente quer ficar por cima, faça o seguinte:
a) Envie e-mails para seu orientador a partir de um endereço falso. Sempre que ele tentar responder, vai receber seu e-mail de volta.
b) Telefone para o escritório dele nos horários em que você sabe que ele está em aula. Faça isso durante umas duas semanas. Deixe sempre recado para ele retornar a ligação e um número de telefone que não existe.
c) Finalmente, descubra quando seu orientador viaja e vá ao seu escritório nestes dias. Reclame com todo o mundo que você nunca o encontra e que ele não responde os seus e-mails nem seus telefonemas.
Pronto, você já conseguiu um respeito profundo pelo seu orientador e a partir de agora ele vai deixa-lo em paz.
O que Ler

Quando o orientador exigir que você leia alguma coisa, não faça isso. É melhor tentar tirar a dissertação da sua imaginação, pois a leitura de textos científicos pode poluir suas idéias com coisas estranhas como “estado da arte”, “trabalhos relacionados”, etc. Lembre-se, não estamos interessados em arte, nem em relacionamentos, mas em informática na educação.
Se o orientador lhe pedir para ler alguma coisa em inglês, diga que isso leva muito tempo e exija bibliografia em português. Sempre existe alguma tão boa quanto, mesmo que seja de 15 anos atrás.
Outra coisa fundamental: jamais leia qualquer material que tenha menos de 10 anos de idade. Lembre-se que o tempo traz a maturidade. Assim, as idéias de 10 anos atrás são muito mais sólidas do que qualquer coisa que foi publicada semana passada. Uma bibliografia bem antiga e respeitável: isso é o que dá substância a uma dissertação na área de computação.
O Título da Dissertação

O título da dissertação é um ponto muito importante. É a primeira coisa em que o leitor vai colocar os olhos. Portanto, faça ele grande. Três linhas de texto e não se aceita menos! Coloque no título toda a informação possível sobre o seu trabalho. Mesmo que o trabalho depois acabe sendo desenvolvido de uma forma diferente que não tenha nada a ver com o título, é absolutamente proibido mudar o mesmo, e você deve mantê-lo a todo o custo. Muitos alunos perguntam se podem mudar o título do trabalho depois que registraram o projeto no seu ingresso no mestrado e a resposta é claramente “NÃO!”.
Sobre o formato do título, ainda é importante frisar que ele deve ter obrigatoriamente dois pontos (“:”) em algum lugar, dividindo o título principal do subtítulo. Você viu o título deste artigo? À guisa de exemplo, considere a correta colocação dos dois pontos no título abaixo:
“Influência da salivação das formigas nas rachaduras das calçadas: um estudo comparativo entre os métodos de diagonalização simples e triangulação complexa”
Você não sabe, mas o título deste artigo tinha apenas duas linhas. Isso não é desejável, mas colocado em fonte 20, como fizemos, conseguimos o efeito apropriado, com o texto em três linhas.
Outra forma muito elegante de usar os “dois pontos” é quando você desenvolveu um software/modelo/proposta/etc., que tenha como nome uma sigla engraçadinha. Coloque o acrônimo antes dos dois pontos e o nome por extenso logo depois. É possível ainda adicionar um subtítulo, mas a maioria vai achar suficiente apenas o acrônimo e sua explicação por extenso.
Veja o exemplo abaixo:

“PATETA: Parâmetros Associados de Testes Empíricos para Tratamento Alternativo”
Observação: a palavra “empírico” é muito empregada em dissertações na nossa área. Procure usa-la sempre que possível. “Dialético” também é importante; mesmo que você não saiba o que é isso, use!
Se você for louco para publicar seu trabalho em inglês, use siglas charmosas como: “SHIT: Software & Hardware Integration Technology”, ou “CACA: Computer-Aided Cognitive Adaptation”.
Se você não conseguir produzir um título longo, use o algoritmo a seguir.
Escreva o assunto. Ex.: “Hipermídia adaptativa”
Acrescente no início: “um modelo de”. Ex.: “Um modelo de hipermídia adaptativa”.
Acrescente no fim: “para uso no processo de ensino/aprendizagem”. Ex.: “Um modelo de hipermídia adaptativa para uso no processo de ensino/aprendizagem”.
Acrescente no início: “um estudo prático visando uma proposta de”. Ex.: “Um estudo prático visando uma proposta de um modelo de hipermídia adaptativa para uso no processo de ensino/aprendizagem”.
Acrescente no final o famigerado “dois pontos” e a frase “uma nova abordagem”. Ex.: “Um estudo prático visando uma proposta de um modelo de hipermídia adaptativa para uso no processo de ensino/aprendizagem: uma nova abordagem”.
Use todas as regras ou apenas um sub-conjunto delas. Tanto faz! Você está chegando lá...
Tempos Verbais

Todos sabem que uma dissertação de mestrado é um trabalho individual. Por isso use sempre o plural majestático. Veja abaixo alguns exemplos interessantíssimos:
“Nossa proposta visa construir um sistema que...”
“Acreditamos que a interação dos alunos com o sistema...”
“Nós vos concedemos o título de Sir ...”
Outra coisa que dará muita credibilidade ao trabalho é o uso da mesóclise pronominal. Seguem exemplos:
“A experimentação do processo far-se-á através de...”
“Nossas hipóteses confirmar-se-ão após...”
“Fi-lo porque qui-lo.
O último exemplo não consiste de uma mesóclise, mas mostra o efeito fantástico que se pode obter usando ênclise no final de uma frase. É de muito bom gosto e elegância.
Outra coisa, que você já deve ter observado, se leu uma dissertação em informática na educação, é que primeiro parágrafo da introdução deve ter necessariamente um adjetivo megalomaníaco, que mostre a grandeza do seu trabalho. Seguem exemplos:
“O impressionante crescimento da Internet nos últimos anos...”
“É cada vez maior o interesse pela informática na educação...”
“A cada dia mais e mais pessoas se conectam ao maravilhoso mundo da era digital...”
Segue normalmente ao parágrafo com o adjetivo megalomaníaco um parágrafo ressaltando as famigeradas “novas tecnologias”. Todos sabem que essas “tecnologias”, sejam quais forem, tem mais de 20 anos, mas como você está lendo a bibliografia de 15 anos atrás, continue dizendo que elas são novas.
O Editor de Texto

Uma vez um mestrando de alhures me procurou durante um congresso e perguntou se a “tese” deveria ser escrita com Latex. Eu perguntei o porquê da questão, e ele me disse que o orientador dele achava que assim o trabalho ficaria mais “científico” do que se ele usasse o Word. A resposta nesse caso é que o orientador dele está redondamente enganado! O motivo para usar Latex é que assim ele vai levar tanto tempo para editar o texto que seu mestrado vai durar bem mais que os 18 meses recomendados pela CAPES e assim ele pode manter a bolsa por mais tempo.
A Estatística

Você já deve ter ouvido falar que a estatística é nossa amiga. Isso é verdade. Aplicando os questionários certos da forma certa você pode provar qualquer coisa que queira.
Apenas para exemplificar, conta a lenda que um especialista em marketing resolveu fazer uma pesquisa para saber se as pessoas costumavam responder questionários enviados para suas casas. Ele elaborou um belo questionário onde a principal pergunta era se a pessoa costumava responder questionários enviados à sua casa. De 1000 questionários enviados pelo correio ele recebeu de volta apenas 50, dos quais 49 responderam “sim” a esta pergunta. A conclusão, a partir do material recebido, era que 98% (49/50) das pessoas costumam responder questionários enviados a suas casas.
Portanto, quando você quiser avaliar seu software educacional, faça um questionário para os alunos com perguntas do tipo “você gostou do software?” (eles sempre gostam), “você acha que iniciativas deste tipo deveriam ser feitas mais seguidamente?” (todos respondem que sim, porque enquanto estão brincando com o software não estão tendo aula), “você aprendeu alguma coisa com este software?” (todos respondem que sim. Ninguém admite que não aprendeu nada para não passar vergonha. É como aquelas pessoas que riem sem entender a graça da piada. Você já percebeu que a quantidade de gargalhadas é sempre maior e seu volume mais alto quando a palestra é em Inglês?), etc.
Os Capítulos

Toda dissertação de mestrado em informática na educação se divide em quatro ou cinco capítulos. A seguir passamos a analisar cada uma das partes constitutivas em suas características próprias.
A Introdução

O primeiro capítulo da dissertação deve ser a introdução. Neste capítulo você deve fazer um longo apanhado de toda a história da informática na educação no Brasil e no mundo. De preferência inicie na pré-história. Se você não sabe nada sobre o assunto, não tem problema. Copie de outra dissertação. A banca vai adorar ler e vai aprender um pouco sobre este importante assunto tão atual “neste final de milênio”. (Isso mesmo! Ainda hoje, em 2002, saem textos assim.)
Outra coisa fundamental na introdução é fazer uma defesa sobre a importância e atualidade do uso dos computadores nas escolas e como estes professores reacionários não querem saber de usar o computador porque “tem medo”. Nunca é demais repetir isso. Se você quiser também reclamar do governo que nunca dá verbas para a educação, este é o lugar para fazer isso.
Em hipótese alguma fale de seus objetivos no trabalho na introdução e nem dê pistas sobre o que você fez na dissertação. Para que adiantar informações que podem ser tranqüilamente lidas quando o leitor chegar no capítulo 4?
Se o seu orientador for daqueles dinossauros que ainda pede que se escreva objetivos no capítulo introdutório, faça de forma que ninguém desconfie do assunto da dissertação. Abaixo são citados alguns objetivos genéricos que você pode perfeitamente usar em seu trabalho. Não se importe em copiar, afinal texto é para ser copiado mesmo:
“Nosso objetivo é melhorar a qualidade do computador na escola”;
“Nosso objetivo é aprimorar nossos conhecimentos nessa importante área”;
“Nosso objetivo é trazer uma contribuição para essa área tão fundamental”.
Existe um tipo de orientador ainda mais reacionário que pede “objetivos específicos”. Os objetivos específicos servem apenas para uma coisa: para deixar o mestrando fulo da vida porque tem que escrevê-los. Nós realmente recomendamos que você escreva objetivos específicos, porque a banca vai pedir. Ou você pode usar isso como bode (fig. 1), deixando de escrever os objetivos específicos para que os membros da banca não percebam outros problemas mais graves no seu trabalho.

Figura 1: O Bode – o bode é um erro grosseiro inserido de propósito em um trabalho que impede os avaliadores de encontrarem os verdadeiros erros importantes.

Em hipótese alguma os objetivos específicos devem trazer alguma informação sobre o trabalho. Use como objetivos específicos uma listagem daquelas atividades que são óbvias em qualquer dissertação. Dê a elas um grau de importância maior usando alíneas com figuras complexas como carinhas risonhas e, se possível, coloridas. Exemplo de objetivos específicos:
: Estudar o assunto;
: Implementar o protótipo;
: Colher resultados;
: Escrever a dissertação;
: Agradar a banca.
Outra forma de causar um excelente impacto com o seu trabalho é usar e abusar das partículas “re” entre parênteses para que uma palavra possa ser lida de duas formas. Segue um exemplo: “Neste trabalho queremos (re)pensar a educação para (re)elaborar e (re)organizar esta área de forma a (re)alizar uma significativa contribuição.”
Revisão Bibliográfica

A lei de ouro da dissertação em informática na educação estabelece o seguinte:
“Toda dissertação de mestrado em informática na educação deve ter como capítulo 2 um apanhado da teoria de Piaget e Vigotsky”
Lembre-se, essa regra é fundamental. Algumas dissertações mais antigas apresentavam apenas Piaget no capítulo 2. Hoje é inaceitável um trabalho que não resuma Piaget e Vigotsky. Mesmo que você não seja da área, nunca tenha ouvido falar nestes caras, e não vai usar nada deles na sua dissertação, é importante que você os cite, senão os pedagogos podem achar que o seu trabalho não tem fundamentação.
Aliás, a regra de prata, que sempre acompanha a regra de ouro diz o seguinte:
“O capítulo 2 é o único lugar da dissertação onde Piaget e Vigotsky são citados”
Isso implica que a partir do capítulo 3 você deve esquecer completamente estes camaradas. Isso vai ser mais fácil se você procurar não entender o trabalho deles quando estiver copiando aqueles longos parágrafos do livro “Para entender Piaget” ou “Vigotski for dummies”.
Não se preocupe também com o fato de que as teorias de Piaget e Vigotsky serem contraditórias em muitos pontos. Afinal, isso é problema dos psicólogos. Se você é formado em computação e durante o projeto alguém questionar como você vai absorver estes conhecimentos de outras áreas, diga que você tem uma tia que é psicóloga e que ela vai lhe passar estes lances.
Desenvolvimento

O capítulo com o desenvolvimento do trabalho deve ser o mais curto possível. Nunca pode ocupar mais de 10% da dissertação. Na nossa área é importante que os trabalhos não sejam práticos. Análises, comparações, avaliações, etc.: estas são as palavras chave. “Metodologia” também é uma palavra excelente para produzir nada. Veja os exemplos de desenvolvimento abaixo:

“Uma análise comparativa entre X e Y” - não faça comparação nenhuma. Apenas descreva X e Y separadamente. Não tire conclusões.
“Avaliação do processo Z”. Avalie de acordo com a sua cachola. Nada de usar metodologia de avaliação. Afinal você não encontrou nenhuma na bibliografia que você não leu.
“Uma proposta de metodologia para W” - proposta de metodologia é um desenvolvimento excelente para sua dissertação. “Proposta” significa que você não se compromete em desenvolver nada; está apenas propondo. “Metodologia” significa que você realmente não vai produzir nada mesmo. Escreva um “blá-blá-blá” e se alguém se queixar diga que esta é a sua metodologia. Se algum xarope insistir em reclamar, mande olhar no texto: “a metodologia está descrita lá”, você vai dizer, “é apenas uma proposta”.
Seguindo estes conselhos seu trabalho será um legítimo AMUTS, ou seja, “Apenas Mais Um Trabalho Sobre...” (adaptação livre do termo inglês YAPA - Yet Another Paper About...).
Sempre que você não souber como resolver um determinado problema em seu trabalho diga que vai usar “técnicas de IA (Inteligência Artificial)”. Ninguém se importa em saber quais são estas técnicas, nem você. Quando chegar a hora é só pegar o livro da Elaine Rich e achar ali alguma “técnica” que lhe ajude a resolver o problema de encontrar o último número primo. “Use a força bruta”, dirá o livro. Então você pode começar a espancar sua dissertação com violência.

Capítulo das Conclusões

O capítulo de conclusões é de extrema importância para uma boa avaliação de uma dissertação de mestrado. Os membros de bancas somente lêem os objetivos e as conclusões da dissertação para ver se uns batem com os outros. Por essa razão, os objetivos só podem ser escritos após as conclusões que, aliás, devem ser o menos conclusivas possível.
Lembre-se que depois que Moisés desceu da montanha com as duas tábuas da Lei contendo os dez mandamentos, tudo o que se seguiu tornou-se difuso e relativo, inclusive as interpretações dos dez mandamentos (Diz a lenda que eram 15 mandamentos em 3 tábuas de pedra, mas como era desajeitado para carregar Moises deixou cair uma no caminho). Reforçando: evite, a todo custo, ser conclusivo, permitindo diferentes interpretações por parte da banca, podendo usar para tanto desculpas na linha de não ser partidário de radicalismos, não ser fundamentalista etc.
Se for absolutamente indispensável que sua dissertação apresente conclusões realmente conclusivas, siga o procedimento adotado por experimentados avaliadores de cursos de pós-graduação, um segredo acadêmico conhecido por poucos experimentados pesquisadores. O procedimento é constituído por três passos:

a) Estabeleça as conclusões, de forma a agradar plenamente a banca examinadora, sem criar complicações para você;
b) Gere os dados e observações que serão usados para justificar as conclusões estabelecidas no passo anterior; e
c) Por último, descreva uma metodologia que leve, de maneira “racional”, das observações às conclusões.
Esse procedimento já foi usado com sucesso em inúmeros trabalhos, justificando conclusões como:
“A aranha, sem pernas, fica surda, pois não pula mais quando a gente manda”
Um último conselho: produza o abstract com um tradutor automático sobre o resumo e não o revise, ou melhor, nem mesmo o leia. É um excelente bode (ver fig. 1)!

As Referências Bibliográficas

As referências bibliográficas são de extrema importância para a credibilidade acadêmica de seu trabalho. Se tudo o que você disser em sua dissertação estiver respaldado em adequadas citações de autores respeitados, seu trabalho será considerado de bom nível acadêmico, mesmo que não contenha nenhuma idéia original. Colocar idéias originais na dissertação, sem o respaldo de que essa mesma idéia já foi registrada por algum autor consagrado, pode ser extremamente perigoso. Os membros da banca estarão atentos para essa situação e pegarão no seu pé.
Muitos orientadores insistem em que seus alunos listem as referências bibliográficas em ordem alfabética do sobrenome do primeiro autor. Não faça isso! Apenas para criar caso invente uma ordem qualquer, pois membros de bancas de mestrado, normalmente, procuram verificar se as referências do texto constam da bibliografia. Para que facilitar o trabalho deles?
Uma providência que pode facilitar muito a sua vida, na hora da defesa, é colocar nas referências bibliográficas artigos de autoria de membros da banca. Você pode encontrar essas referências consultando a plataforma Lattes do CNPq, que deverá conter o currículo atualizado dos membros da sua banca. Se os membros da sua banca não têm seus currículos na plataforma Lattes, então você começa a ter razões para se preocupar.
Outro lance que pode impressionar a banca é colocar nas referências bibliográficas o nome de um figurão da área e, em lugar da referência do livro ou artigo, um lacônico “comunicação pessoal”, seguido de uma data.
No meio do texto lembre-se: jamais ler os originais, use sempre “apud”, se um texto é bom o suficiente para ser citado por alguém, certamente será ótimo quando você o citar de novo sem ler a fonte original.

O Texto Final

Para defender a sua dissertação, você precisa escrever o texto final, que será distribuído para os membros da banca e se constituirá na peça central de sua acusação e execração pública. Esse documento deve ser redigido dentro de normas e preceitos rígidos, estabelecidos pela metodologia científica, para ser respeitado como tendo um mínimo valor acadêmico.
Alguns alunos começam, precoce e furiosamente, a produzir páginas e páginas de texto, que somente vão contribuir para aumentar sua frustração quando o orientador mandar retirar essas páginas do texto final. “Puxa! Depois de todo o meu trabalho, não vou aproveitar esse texto?”. O melhor é evitar de escrever qualquer coisa antes de ter uma idéia completa da dissertação, do que deve ser escrito e do que não deve ou não precisa ser colocado, ou por ser óbvio ou muito trabalhoso de escrever. Com essa idéia clara, você não vai precisar mais do que uma semana para passar tudo para o papel!
Ao longo do processo de orientação evite a todo o custo passar qualquer coisa escrita para seu orientador, pois isso só lhe criará problemas adicionais. Use desculpas clássicas, como: “só falta descrever o protótipo”, “falta fechar a bibliografia”, estou revisando a ortografia”, ou, até, “não consegui imprimir”. Quando, finalmente, você passar o texto completo para seu orientador, duas semanas antes da data marcada para a defesa, será tarde demais para ele solicitar qualquer alteração que não seja superficial. Imponha sua decisão, personalidade e independência: afinal, você é, praticamente, um Mestre!

A Defesa da Dissertação

Normalmente uma dissertação é apresentada em 50 minutos. É fundamental que você divida a apresentação em pelo menos oito partes e gaste 45 minutos inteiros na primeira parte. Você vai poder perceber como a banca estará relaxada quando após 45 minutos você disser “agora que vimos a introdução vamos dar uma olhada no que dizem os 81 autores citados na revisão bibliográfica”.
Lembre-se de abusar das transparências. O mínimo para 50 minutos de apresentação é 100 transparências. Como você vai gastar 45 minutos nas cinco primeiras, restarão apenas 5 minutos para as 95 restantes. Assim, você poderá apresentar o grosso do trabalho a uma taxa de aproximadamente 3 segundos por transparência. Reclame que teve pouco tempo para apresentar.
Uma história verídica relata que uma vez um candidato reclamou que não poderia falar tudo o que ele sabia em 50 minutos. O presidente da banca foi direto: “Então fale BEM DEVAGAR E PAUSADAMENTE!”.
Depois da sua apresentação, tenha paciência. Este é o momento de glória dos membros da banca. Cada um vai agradecer o convite, lhe dar os parabéns pela escolha do tema, tão difícil, desafiador e multi-disciplinar, e em seguida vai tentar reduzir você a cinzas. Cada erro, cada vírgula de seu trabalho, que não estiver de acordo com a opinião da banca será delatada em público. Neste ponto é importante observar que você deve se lembrar sempre de colocar “bodes” no trabalho, ou seja, aqueles pequenos erros grosseiros na forma, na paginação ou nas referências bibliográficas, que fazem com que os membros da banca se satisfaçam em delatar a sua incapacidade em escrever um texto bem acabado e não percebam os erros muito mais profundos e importantes que o seu trabalho realmente possui. É muito mais fácil arrumar um bode do que um erro real.
Você já viu alguma vez um membro da banca dizer simplesmente: “Seu trabalho está muito bom! Pode ser aceito como dissertação de mestrado e encerro aqui a minha fala.”? Não! Neste momento os membros da banca sempre têm algum defeito a apontar, mesmo que seja imaginário. Se você fosse membro de uma banca avaliadora você se sentiria bem se não encontrasse nenhum erro? Não! Isso provaria que o candidato ao mestrado é mais inteligente do que você. Isso não pode acontecer em hipótese alguma. Por isso é que os avaliadores se esmeram na leitura do trabalho até encontrarem um erro. Então eles têm o que falar da defesa. Concluindo: não esqueça do bode! (ver fig. 1)

A Impossibilidade da Aprovação sem Observações

Existe uma prova matemática de que um membro de banca sempre pode ter o que reclamar em uma dissertação. A seguir faremos a demonstração:
Seja a o número de capítulos de sua dissertação. Seja b um número inteiro entre 1 e a: 1 d b d a. Seja f(b) o número de páginas no capítulo b, onde f(b) e 1.
Seja x um número irracional positivo, que chamaremos de limiar de intolerância do membro da banca. Seria absurdo se este número fosse inteiro ou fração, portanto, por redução ao absurdo, só pode ser irracional.
Para qualquer valor de f(b), se f(b) <> x o membro da banca dirá que o capítulo b está muito longo, para qualquer b.
É impossível que f(b) seja igual a x porque x é irracional e f(b) é inteiro.
Portanto o membro da banca sempre terá muito o que dizer sobre a sua dissertação. ¤ C.Q.D.
Se sua dissertação também tiver alguma demonstração como essa, não esqueça de mudar a fonte das variáveis para “symbol”. Letras gregas sempre dão muito mais confiabilidade às suas provas. Apenas certifique-se de saber como pronunciar o nome da letra, para não passar vergonha na hora da defesa.

Como Saber se um Membro da Banca não leu a sua Dissertação

É fácil saber se um membro da banca não leu a sua dissertação. Em geral, ele não vai abordar questões de conteúdo; vai se prender a observações sobre o resumo, o tamanho dos capítulos, a quantidade de referências bibliográficas, e vai perguntar onde você pretende aplicar este trabalho depois que for concluído.
Quando você perceber que um membro da banca não leu seu trabalho, você tem duas possibilidades:
a) Desmascará-lo em público, perguntando o que ele achou sobre a quadratura do círculo que você não escreveu na dissertação. Quando ele disser que achou o relato interessante você diz: “Há! Eu nunca falei sobre isso no texto!”.
b) Aceitar o fato e deixar seguir o baile.
Como a primeira opção pode acabar em uma anulação da defesa, ou pior, nas vias de fato, cremos ser melhor você optar conservadoramente pela segunda opção. Mas nunca deixe de comentar este fato com seus amigos nas rodinhas de cerveja: “Lembra do professor Fulano? Pois é! Ele nem leu minha dissertação, mas achou ótima!”.

Depois de Formado

Depois de formado, nunca admita que você trabalha com informática na educação, a não ser que você queira ouvir do seu interlocutor tudo o que ele sabe sobre esse assunto, que o sobrinho dele de 13 anos fez um programa para ensinar, e que ele manja tudo de informática na educação, que sabe mais que os doutores da universidade, etc.
Ao invés disso, invente nomes esotéricos para sua área de pesquisa, como “matética computacional”, “semiótica da telemática”, “cognição multi-evolutiva”, “maiêutica transcendente” etc. Ninguém vai querer seguir uma conversa se você disser que está aplicando técnicas de hipo-renderização bi-polinomial em assíntotas de marcações não-lineares. Se você quiser realmente espantar a pessoa ofereça-se para entrar em detalhes.
Jamais use termos de uso comum como “inteligência artificial” ou “realidade virtual”. Infelizmente os não iniciados já se apropriaram destes termos, a partir de filmes de Hollywood. Se você entrar numa discussão sobre estes assuntos com eles você vai arrumar uma úlcera.
Finalmente o trabalho futuro! Você deve imediatamente após o mestrado engajar-se em um programa de doutorado para agradar a banca que tanto quer ver seu trabalho ter continuidade. Mas lembre-se, assim como o curso superior serve para dar direito a cela especial, o doutorado tem uma serventia muito importante: quando, em uma discussão, alguém lhe impuser sua posição dizendo disser “Eu sou doutor!”, você pode responder “Grande coisa! Eu também sou!”.

Bibliografia

Procuramos durante 15 minutos na Internet e não achamos nenhum artigo sobre esse tema. Concluímos, portanto, que o assunto é inédito e este é um trabalho pioneiro.

Fonte:
Sugestões: raul@inf.ufsc.br

terça-feira, outubro 28, 2008

Escolas para o século XXI

Por: David Orr*

Os jovens deverão saber como criar uma civilização que funcione com energia solar, conserve a biodiversidade, proteja solos e florestas, desenvolva empreendimentos locais sustentáveis e repare os estragos infligidos à Terra.Para oferecermos essa educação ecológica,precisamos transformar nossas escolas e universidades.
Na sociedade industrial, a grande maioria considera o sistema educacional, do primário ao doutorado, caro demais, maçante e pouco eficaz. Acham que este precisa de uma reforma radical, mas não sabem como proceder. Uns afirmam que a falha se deve à falta de verbas para laboratórios, bibliotecas, equipamentos, salários e novas instalações — ponto de vista defendido, obviamente, por educadores profissionais. Do outro lado, estão aqueles que defendem o abandono de grande parte do sistema atual, para criar um sistema de escolas organizadas como empresas.Ambos concordam, porém, quanto aos objetivos básicos da educação: primeiro, equipar a sociedade com uma força de trabalho de “categoria mundial” para competir com vantagem na economia global e segundo, fornecer a cada indivíduo os meios para progredir ao máximo.No entanto, existem motivos melhores para repensar a educação, ligados às questões de sobrevivência humana que dominarão o mundo no século XXI. A geração que hoje está estudando terá que fazer aquilo que nossa geração não conseguiu ou não quis fazer: estabilizar a população mundial, fixar e depois reduzir a emissão de gases que ameaçam mudar o clima — proteger a diversidade biológica, reverter a destruição de florestas e conservar o solo, cuja erosão diária atinge milhões de toneladas.As gerações futuras precisam aprender a utilizar melhor a energia e os materiais disponíveis. Precisam aprender a usar a energia solar sob todas as suas formas. Precisam eliminar a poluição e o desperdício. Precisam aprender a administrar recursos renováveis. Precisam iniciar a imensa tarefa de restaurar, da melhor forma, os danos causados à Terra nos últimos 200 anos de industrialização. E tudo isso precisa ser feito, enfrentando as iniqüidades sociais e raciais. Nenhuma geração teve que encarar tamanho programa de trabalho. Continuamos, porém, a educar nossos jovens como se não houvesse nenhuma emergência planetária. Mas, a crise que enfrentamos é principalmente uma crise da mente, da percepção e dos valores — portanto, um grande desafio para as instituições que formam mentes, percepções e valores. Um desafio educacional.Continuando com a mesma educação, que nos permitiu industrializar a Terra, somente vamos piorar a situação. Isso precisa ser dito com ênfase, porque a crise ambiental não é provocada principalmente por pessoas ignorantes, sem escolaridade. É provocada por pessoas de boa formação que, segundo Gary Snyder, “ganham rios de dinheiro, vestem-se impecavelmente, formam-se nas melhores universidades, apreciam pratos finos e lêem bons livros, enquanto orquestram investimentos e leis que arruínam o mundo”. São homens e mulheres com diplomas universitários, educados para pensar que dominar a natureza é nosso direito legítimo. Não estou querendo ir contra o ensino, mas falar a favor do tipo de ensino que prepara as pessoas para um estilo de vida apropriado a um planeta com biosfera sujeita às leis da ecologia e da termodinâmica.As habilidades, aptidões e atitudes necessárias para industrializar a Terra não são necessariamente as mesmas que vamos precisar para curar a Terra ou para estabelecer economias e comunidades sustentáveis. Os grandes desafios ecológicos requerem uma alteração das matérias, do sistema e dos objetivos do ensino, em todos os níveis. Entretanto, o historiador Jaroslav Pelikan, da Universidade de Yale, tem dúvidas quanto à capacidade da universidade para enfrentar esta crise, que não só é ecológica e tecnológica, como também educacional e moral.Para construir uma ordem mundial sustentável, precisamos desmontar o frágil andaime de idéias, filosofias e ideologias que constituem o currículo escolar moderno. Isso requer cinco medidas. Primeiro, precisamos desenvolver verdades mais abrangentes e ecológicas. Os arquitetos da visão atual que temos do mundo, principalmente Galileu e Descartes, consideravam tudo o que podia ser pesado, medido e somado, mais verdadeiro do que aquilo que não pode ser quantificado. Em outras palavras, se não podia ser quantificado, não contava. A filosofia cartesiana era cheia de tropeços ecológicos, que os discípulos de Descartes desenvolveram ao grau máximo. Sua filosofia separava o homem do mundo natural, despia a natureza do seu valor intrínseco e segregava a mente do corpo.Se quisermos salvar espécies e ambientes, precisamos de um conceito mais amplo da ciência e de um raciocínio mais abrangente, que une o conhecimento empírico com as emoções que nos fazem amar e, às vezes, lutar. Descartes e seus discípulos estavam errados: não se pode separar os sentimentos do conhecimento, o objeto do sujeito; não podemos separar a mente ou o corpo do contexto ecológico e emocional. Ciência sem amor não pode oferecer um motivo para apreciar o pôr do sol, nem pode oferecer um motivo objetivo para valorizar a vida. Esses motivos precisam vir de fontes mais profundas.Segundo, precisamos desafiar a presunção contida no currículo oculto, que entende que o domínio da natureza pelo homem é bom; que uma economia de mercado crescente é natural; que todo conhecimento, independente de suas conseqüências, é igualmente valioso e que o progresso material é nosso direito. Nos tornamos incapazes de resistir à sedução da tecnologia, do conforto e do ganho imediato. Sob esse ponto de vista, a crise ecológica é questão de discernir entre vida ou morte, benção ou maldição, e de aprender a escolher a vida.Terceiro, precisamos reconhecer o fato de que o currículo moderno ensina muito sobre individualidade e direitos, mas pouco sobre cidadania e responsabilidade. A emergência ecológica somente pode ser resolvida quando um número suficiente de pessoas adquirir uma idéia mais ampla do que significa ser cidadão. Esse conhecimento precisa ser cuidadosamente adquirido em todos os níveis de ensino.Não se trata apenas de um problema político e social. Hoje, deveríamos ver o quanto dependemos da comunidade mais ampla de seres vivos. Nossa linguagem política não sugere esta dependência. A palavra “patriotismo”, por exemplo, é destituída de conteúdo ecológico. É preciso que ela venha a significar o uso feito da terra, florestas, ar, água e vida selvagem. Abusar dos recursos naturais, desgastar o solo, destruir a diversidade natural, desperdiçar, tomar mais do que o necessário ou deixar de repor o que foi usado — tudo isso precisa, no futuro, ser considerado falta de patriotismo. É preciso que “política” volte a significar, como disse Vaclav Havel, “servir a comunidade e servir aqueles que virão depois de nós”. Quarto, precisamos questionar o conceito amplamente difundido de que nosso futuro é de constante evolução tecnológica e que isso é bom. A fé na tecnologia permeia todo o currículo, aceitando cegamente a noção de progresso. Entretanto, esse progresso não é um caminho escolhido de forma consciente, mas uma crendice tecnológica que avança sem controle através da história. Essas crendices são incorporadas nos aos métodos pedagógicos, sem questionamento. Conhecer a linguagem do computador, por exemplo, transformou-se em meta nacional — incentivada em geral pelos vendedores. Esse fundamentalismo tecnológico precisa ser questionado. As mudanças tecnológicas estão nos levando para onde queremos? Qual é o efeito da tecnologia sobre nossa imaginação, em questões sociais, éticas e políticas? E qual é o seu efeito ecológico?George Orwell tinha prevenido que o “fim lógico do progresso tecnológico é reduzir o ser humano a algo parecido com um cérebro encerrado em uma garrafa”. O pesadelo de Orwell está se transformando em realidade, graças também às pesquisas realizadas nas melhores universidades — pesquisas contrárias às nossas reais necessidades. Nossas necessidades são necessidades do espírito, mas nossa imaginação e criatividade concentram-se na matéria.Um quinto desafio desponta no horizonte, solapando a mais antiga e confortável das premissas: que educação somente pode ter lugar em instituições “educacionais”. Escolas e universidades são caras, lentas, com pouca imaginação, oprimidas pelo peso da tradição e da autocongratulação. Oferecem currículos com disciplinas que pouco correspondem à realidade. A educação ecológica visa provocar uma mudança na ênfase, na lealdade, no afeto e nas convicções, para preencher a lacuna existente entre o homem e seu meio ambiente. Trata-se menos de remendos no status quo, do que de um rompimento com antigos conceitos, com a camisa-de-força dos currículos e até com o confinamento em salas de aula e prédios escolares.Educação ecológica exige, antes de mais nada, a reintegração da experiência no ensino, porque a experiência é um ingrediente indispensável ao raciocínio. Uma boa maneira para obter essa reintegração é utilizar o campus universitário como laboratório para o estudo de alimentos, energia, materiais, água e saneamento. A pesquisa do impacto ecológico de determinada instituição transforma questões abstratas complexas em dimensões compreensíveis — em escala que permite a busca de soluções. Isto representa um antídoto para o desespero sentido pelos alunos, quando compreendem os problemas, mas são incapazes de efetuar mudanças. As universidades precisam observar atentamente o potencial econômico da região, para descobrir como o dinheiro pode ser gasto e investido no local, para ajudar a mover o mundo em direção mais sustentável. Por exemplo, alunos de diversas escolas, que pesquisavam a compra de alimentos, ajudaram a trocar fornecedores distantes por outros mais próximos, permitindo reduzir custos, melhorar a qualidade e impulsionar a economia local.Precisamos ir além. O velho currículo foi elaborado com o objetivo de ampliar ao máximo o domínio do homem sobre a Terra. O novo currículo precisa ser organizado para desenvolver conhecimento ecológico e habilidade prática, essenciais para enquadrar as coisas em um mundo de micróbios, plantas, animais. O modelo ecológico vai cuidadosamente entrosar os objetivos humanos com o mundo natural, para orientar os objetivos humanos.O planejamento ecológico requer capacidade de olhar além das disciplinas, para ver o mundo no contexto mais amplo; requer ampliação do conhecimento ecológico — saber como a natureza trabalha — através de todo o currículo. Significa ensinar aos jovens os fundamentos daquilo que precisam saber para ampliar o horizonte, para criar uma civilização movida a luz solar; que utiliza energia e riquezas com grande eficiência; que preserva o solo, as florestas e a diversidade biológica, que desenvolve empresas locais e regionais sustentáveis; e que repara os danos infligidos à Terra durante toda a era industrial.Mas, precisamos ir ainda mais longe. Chegou o momento de voltar a unir as disciplinas. Para tanto, sugiro que dediquemos parte do currículo, em todos os níveis, ao estudo de um aspecto ou lugar do nosso meio ambiente — um rio, montanha, vale, lago, solo, pântano, determinado animal, pássaros, o céu, a orla marítima ou até mesmo uma pequena cidade. Um curso sobre o rio local poderia começar com uma viagem rio abaixo, para colocar os alunos frente ao objeto do estudo. Depois poderiam escolher diferentes aspectos do rio para estudar: sua evolução, como foi povoado, a ecologia, os peixes e a vida aquática, os efeitos da poluição, as leis que governam o seu uso, e assim por diante. O curso termina com outra viagem, enquanto os alunos descrevem o que aprenderam. Rios, montanhas, lagos são reais; disciplinas são abstratas. O que é real estimula todos os sentidos, não só o intelecto. O conhecimento curricular normalmente é isolado da realidade e muitas vezes é difícil relacioná-lo a realidades ecológicas concretas. Os alunos precisam aprender a apreciar, respeitar e, quem sabe, até mesmo amar uma parte específica do mundo, antes de adquirir o poder implícito no conhecimento puramente abstrato. Se o jovem compreende como o mundo funciona em um sistema integrado e por que esse conhecimento é importante para seus objetivos e seu estilo de vida, ele vai saber também como conseguir uma economia sustentável.Defensores do currículo convencional acreditam que o domínio de uma disciplina, oferecendo conhecimento especializado, é um fim em si. Aconselho revertermos essa prioridade para colocar o conhecimento dentro de um contexto ecológico específico. Desta forma, vamos engajar todos os sentidos dos alunos, não apenas sua inteligência, para que se apaixonem pelo mundo natural. Podemos também ensinar as limitações do conhecimento a respeito de determinado aspecto da natureza — e este é o começo da sabedoria ecológica.Educação ecológica requer também mudanças no funcionamento e nas prioridades de escolas e universidades, assim como no seu modo de operar. Por exemplo, na pesquisa mencionada, os alunos descobriram maneiras de reduzir custos, melhorar serviços, diminuir o impacto sobre o meio ambiente e ajudar a economia local. O princípio é simples: aquelas instituições que pretendem induzir os jovens a tornarem-se adultos responsáveis devem elas próprias mostrar responsabilidade pelo mundo que os jovens herdarão. Instituições de ensino muitas vezes medem seu desempenho pelo investimento por aluno ou pela porcentagem de docentes com Ph. D.. Do ponto de vista ecológico, temos outro conjunto de indicadores da qualidade:1. Emissão de dióxido de carbono por aluno;2. Porcentagem de materiais reciclados;3. Porcentagem de material reciclado adquirido;4. Uso de produtos tóxicos;5. Porcentagem de energia renovável consumida;6. Porcentagem de dejetos orgânicos transformados em adubo; 7. Quantidade de água usada por aluno;8. Porcentagem de alimentos servidos na cantina, que foram cultivados organicamente;9. Carne consumida por aluno.Pensamos que o ensino é feito em edifícios, mas achamos que a construção e operação desses prédios nada têm a ver com educação. Isto é um erro. O currículo oculto na arquitetura acadêmica constitui uma espécie de pedagogia cristalizada, cheia de preconceitos relacionados ao poder, à maneira como as pessoas aprendem, como se relacionam com o mundo natural e como se relacionam uns com os outros. Existem, porém, oportunidades educacionais: o projeto ecológico abrange o paisagismo, a engenharia solar, a seleção dos materiais de construção, a escolha de materiais de consumo duráveis e recicláveis e a eliminação do lixo e dos dejetos.Além de reduzir o impacto sobre o meio ambiente, as instituições de ensino poderiam usar suas verbas para ajudar a economia local e regional. A decisão de comprar alimentos, cultivados organicamente, de produtores locais, pode servir de incentivo para que os agricultores mudem para métodos de produção ecologicamente sustentáveis. O mesmo princípio aplica-se a quase todos os produtos e serviços adquiridos. As instituições de ensino são conhecidas e respeitadas. Todos vão comentar, se uma escola ou universidade comunica que está levando o futuro a sério e, portanto, vai reduzir o impacto sobre o meio ambiente e, ao mesmo tempo, ajudar a economia local e regional.Por fim, algumas palavras sobre o objetivo da educação ecológica. Na maioria das vezes, ouvimos que o ensino é útil porque aumenta as possibilidades de promoção e de ganhar a vida. Preparamos os jovens para aquilo que os orientadores chamam de “carreira”. Raramente mencionamos aquilo que era chamado de “vocação”. Sob uma perspectiva mais ampla, isto é tolice. Os alunos deveriam ser estimulados, antes de mais nada, a descobrirem sua vocação: aquilo que lhes desperta paixão, que realmente gostariam de fazer. A vocação indica o que queremos fazer de nossa vida. A carreira é um plano friamente elaborado para obter segurança e um pouco de “prazer”. A carreira quase sempre revela-se profundamente insatisfatória, não importando a renda. A vocação não é algo calculado, mas o resultado de uma conversa interior sobre aquilo que importa na vida e a contribuição que queremos dar a este mundo. A vocação começa como intuição. É arriscada. É mais inspirada do que premeditada. A carreira é um teste de QI; a vocação é um teste não somente da inteligência, mas também de sabedoria, caráter, lealdade e força moral. A pessoa sempre pode achar uma carreira dentro de sua vocação. É muito mais difícil encontrar, ao longo da vida, uma vocação na carreira. Quando a pessoa opta pela segurança, a sorte está lançada. Em última análise, a carreira é falta de imaginação e sinal de que achamos o mundo pobre em possibilidades.Precisamos encorajar os jovens a encontrar em sua vocação um trabalho bom e necessário. O trabalho melhor e mais necessário no mundo atual procura, de mil maneiras, sintonizar os valores, as instituições, as expectativas e o comportamento humano com o respeito à Terra em que vivemos. Esta é hoje a tarefa da educação.


*David Orr é professor titular de pedagogia na Faculdade de Oberlin, Ohio, EUA.



Fonte: Resurgence nº 160, outubro de 1993.



Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

segunda-feira, outubro 20, 2008

Se oriente, estude mandarim

Por Luiz Carlos Cabrera*


A resistência da economia brasileira a essa impactante crise fi nanceira que vem dos Estados Unidos mostra claramente que ocorreu uma mudança nos chamados eixos fi nanceiros do mundo. As economias emergentes estão desempenhando um papel importantíssimo para o estabelecimento de um novo equilíbrio mundial.
"Em 2015, 60% do PIB mundial virá de países emergentes, como a China"China, Rússia, Brasil, Índia, Coréia do Sul e México resistem à quebra fi nanceira dos grandes bancos americanos graças a seus mercados internos, à produção nacional e à estabilidade de suas moedas e de seus governos. Essa mudança dos eixos econômicos se faz, predominantemente, na direção dos países asiáticos, o que ressuscita um antigo signifi cado da expressão “orientar- se”. No início do século 17, orientar-se era entender o Oriente e sua cultura, suas invenções maravilhosas, sua matemática avançada e os extraordinários conhecimentos náuticos e bélicos. Uma pessoa desorientada era aquela que não tinha essa perspectiva. Com o predomínio da infl uência européia e americana na nossa cultura, a bússola conceitual mudou de posição. Olhamos para o Norte, para os países desenvolvidos, com admiração, norteando nossas ações. A pessoa que não acompanhava o que acontecia no mundo passou a ser chamada de desnorteada, ou seja, que tinha perdido o norte. Pois, agora, é hora de reorientar-se! É hora de entender cada vez mais o que acontece com o Oriente! Em 2015, 60% do PIB mundial virá de países emergentes. A China será a maior potência mundial e, para falar em bancos, provavelmente das dez maiores instituições mundiais só uma será americana. E sabe como isso afeta você? O mercado de trabalho será uma arena global e os profi ssionais dos mercados hoje em desenvolvimento serão disputados por multinacionais chinesas, indianas, coreanas e brasileiras. Para entender esse fenômeno e participar do mercado futuro, é bom você se orientar. Leia mais sobre o Oriente, conheça melhor a história e a cultura desses países e se, você quiser mesmo ser um cara orientado, comece a estudar mandarim.
*Luiz Carlos Cabrera é professor da Eaesp-FGV, diretor da PMC Consultores e membro da Amrop Hever Group.
Fonte: Revista Você S/A
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

quarta-feira, outubro 15, 2008

Processo contra Deus


O senador Ernie Chambers (Foto: Nati Harnik/AP)


Achei muito bizarra essa notícia e resolvi publicá-la. Vejam só as coisas que acontecem nesse mundo. Algumas pessoas ainda tem a coragem de dizer que sou louco. Vejam essa:
"A Justiça de Nebraska, nos Estados Unidos, decidiu arquivar nesta quarta-feira o processo que um senador movia contra Deus. O juiz Marlon Polk, da corte distrital do condado de Douglas, disse que como o senador Ernie Chambers não informou no processo o endereço do réu, a Justiça não teria como notificar Deus. No processo, Chambers acusa Deus de gerar medo e de ser responsável por milhões de mortes e destruições pelo mundo. Segundo ele, Deus gerou “inundações, furacões horríveis e terríveis tornados”. Chambers comentou que Deus fez ameaças terroristas contra ele e seus eleitores. Conforme o senador, ele abriu o processo em Douglas porque Deus está em todos as partes. "Como a corte não tem condições de notificar Deus, é preciso arquivar o processo", afirmou o juiz Marlon Polk em sua decisão. Apesar de significar inicialmente uma "derrota", o senador encarou positivamente a decisão. "A corte reconheceu, desta forma, a existência de Deus", afirmou. "Desta forma, uma das conseqüências de reconhecer Deus é admitir sua onisciência. E, se Deus sabe tudo, Deus foi automaticamente notificado deste processo", completou. Chambers tem agora 30 dias para decidir se vai ou não recorrer do arquivamento do processo".
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

terça-feira, outubro 14, 2008

Aprendendo a Pensar

Para o dia do professor escolhi como post este artigo de Sthepen Kanitz, de quem compartilho muitas idéias. Assim como ele, acredito que a tarefa de um professor deveria ser ensinar a pensar em vez de exigir "decorebas" para míseras provas. E a tarefa do aluno; aprender pensar em vez de memorizar fórmulas e fatos para apenas responder provas de final de disciplina. Ao meu ver, infelizmente, a educação atual não ensina pensar. Pelo contrário, insiste em reproduzir um sistema repetitivo de fórmulas prontas acabadas, as quais, não se aplicam mais num mundo de mudanças constantes e veloz. Abaixo, vejamos o relato de Kanitz:
"A maioria das aulas que tive foi expositiva. Um professor, normalmente mal pago e por isso mal-humorado, falava horas a fio, andando para lá e para cá. Parecia mais preocupado em lembrar a ordem exata de suas idéias do que em observar se estávamos entendendo o assunto ou não.
Ensinavam as capitais do mundo, o nome dos ossos, dos elementos químicos, como calcular o ângulo de um triângulo e muitas outras informações que nunca usei na vida. Nossa obrigação era anotar o que o professor dizia e na prova final tínhamos de repetir o que havia sido dito.
A prova final de uma escola brasileira perguntava recentemente se o país ao norte do Uzbequistão era o Cazaquistão ou o Tadjiquistão. Perguntava também o número de prótons do ferro. E ai de quem não soubesse todos os afluentes do Amazonas. Aprendi poucas coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos.
Curiosamente não ensinamos nossos jovens a pensar. Gastamos horas e horas ensinando como os outros pensam ou como os outros solucionaram os problemas de sua época, mas não ensinamos nossos filhos a resolver os próprios problemas.
Ensinamos como Keynes, Kaldor e Kalecki, economistas já falecidos, acharam soluções para um mundo sem computador nem internet. De tanto ensinar como os outros pensavam, quando aparece um problema novo no Brasil buscamos respostas antigas criadas no exterior. Nossos economistas implantaram no Brasil uma teoria americana de "inflation targeting", como se os americanos fossem os grandes especialistas em inflação, e não nós, com os quarenta anos de experiência que temos. Deu no que está aí.
De tanto estudar o que intelectuais estrangeiros pensam, não aprendemos a pensar. Pior, não acreditamos nos poucos brasileiros que pensam e pesquisam a realidade brasileira nem os ouvimos. Especialmente se eles ainda estiverem vivos. É sandice acreditar que intelectuais já mortos, que pensaram e resolveram os problemas de sua época, solucionarão problemas de hoje, que nem sequer imaginaram. Raramente ensinamos os nossos filhos a resolver problemas, a não ser algumas questões de matemática, que normalmente devem ser respondidas exatamente da forma e na seqüência que o professor quer.
Matemática, estatística, exposição de idéias e português obviamente são conhecimentos necessários, mas eu classificaria essas matérias como ferramentas para a solução de problemas, ferramentas que ajudam a pensar. Ou seja, elas são um meio, e não o objetivo do ensino. Considerar que o aluno está formado, simplesmente por ele ter sido capaz de repetir os feitos intelectuais das velhas gerações, é fugir da realidade.
Num mundo em que se fala de "mudanças constantes", em que "nada será o mesmo", em que o volume de informações "dobra a cada dezoito meses", fica óbvio que ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil e até contraproducente. No dia em que os alunos se formarem, mais de dois terços do que aprenderam estarão obsoletos. Sempre teremos problemas novos pela frente. Como iremos enfrentá-los depois de formados? Isso ninguém ensina.
Existem dezenas de cursos revolucionários que ensinam a pensar, mas que poucas escolas estão utilizando. São cursos que analisam problemas, incentivam a observação de dados originais e a discussão de alternativas, mas são poucas as escolas ou os professores no Brasil treinados nesse método do estudo de caso.
Talvez por isso o Brasil não resolva seus inúmeros problemas. Talvez por isso estejamos acumulando problema após problema sem conseguir achar uma solução.
Na próxima vez em que seu professor começar a andar de um lado para o outro, pense no que você está perdendo. Poderia estar aprendendo a pensar".

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br) Artigo Publicado na Revista Veja, Editora Abril, edição 1763, ano 35, nº 31, 7 de agosto de 2002, página 20.
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

sábado, outubro 11, 2008

Obama: O preço de ser negro


ANDREW HACKERDA NEW YORK REVIEW OF BOOKS


Em maio, Hillary Clinton descreveu muitos de seus principais eleitores como "norte-americanos que trabalham arduamente, norte-americanos brancos". A votação nas primárias da Pensilvânia, Ohio e Virgínia Ocidental serviu para confirmar essa avaliação. A declaração dela parecia alegar --sem fazê-lo diretamente-- uma vantagem sobre Obama, e uma vantagem devida à raça. Mas precisamos saber mais. Podemos compreender que o fato de que alguém seja um agricultor, um operador de mercado financeiro ou um colecionador de armas influencie seu voto. E podemos entender os motivos para que os norte-americanos negros desejem ver uma pessoa de sua raça na Casa Branca. Mas o que exatamente faria com que um eleitor, por ser branco, se inclinasse por um candidato em detrimento de outro?
A senadora Clinton deu a entender que essa identidade era saliente para alguns eleitores, e que ela poderia atrai-los. Pesquisas demonstram que entre 15% e 20% dos eleitores brancos nos três Estados mencionados afirmam que "raça" é um dos fatores que definem seu voto, e ficamos sem saber qual é a importância desse fato e que proporção dos eleitores teria dito a mesma coisa se todos fossem igualmente francos diante dos entrevistadores. As pessoas se sentem incomodadas ao falar sobre o assunto raça, mas persiste o sentimento de que essa parte da herança de Obama possa virar a eleição contra ele em 4 de novembro.
1) Barack Obama só poderá se tornar presidente caso inspire um comparecimento de eleitores às urnas em número superior ao dos votos que ele não obterá. Isso bem pode significar que um número maior de norte-americanos negros terá de ir às urnas do que em qualquer eleição do passado, no mínimo porque o eleitorado é predominantemente branco e não se sabe para onde irá o voto branco. Os obstáculos ao voto negro sempre foram formidáveis, mas este ano haverá barreiras --algumas novas, outras já antigas-- que campanhas anteriores não enfrentaram.
Já há muito tempo, o ímpeto político vinha sendo na direção do voto universal. As qualificações patrimoniais foram abolidas; o imposto a ser pago pelos eleitores foi eliminado; a idade do voto foi reduzida a 18 anos. Mas agora existem forças significativas em ação para reduzir o eleitorado, ostensivamente para combater fraudes e remover do registro eleitoral votantes desqualificados por um ou outro motivo. Mas o efeito real dessas medidas é que dificultam o voto para muitos norte-americanos negros, em larga medida porque eles são mais vulneráveis a essa forma de contestação do que outras partes da população.


Licença para votar


Em uma decisão por seis a três redigida pelo juiz John Paul Stevens no caso Crawford vs. Conselho Eleitoral do Condado de Marion, a Corte Suprema dos Estados Unidos sustentou uma lei adotada em 2005 pelo Estado de Indiana, sob a qual os eleitores do Estado teriam de apresentar um documento estadual dotado de fotografia nas urnas.
Na prática, isso quer dizer carteira de motorista ou passaporte. Já que menos de um terço dos adultos norte-americanos dispõem de passaportes, o caso de Indiana girava basicamente em torno do número de cidadãos adultos desprovidos de carteiras de motorista. Durante as audiências, diversos juízes pressionaram o advogado do queixoso por respostas. Por motivos que eu não consigo compreender, ele persistia em mencionar o número 43 mil, para um Estado cuja população em idade eleitoral é de 4,6 milhões de pessoas.
Na verdade, a Administração Rodoviária Federal, em um relatório facilmente acessível, informa que 673.926 residentes adultos de Indiana estão desprovidos de carteiras de motorista, o que representa o nada trivial total de 14,7% dos potenciais eleitores no Estado. Caso essa porcentagem tivesse sido enfatizada, seria possível conjecturar que os juízes Stevens e Anthony Kennedy mudassem de posição.
Requerer uma carteira de motorista no momento da votação tem efeito desproporcional entre as raças, uma constatação que no passado já atraiu atenção judicial. Para solicitar a carteira estadual de identidade que Indiana oferece como alternativa, além disso, as pessoas que não dirigem precisam recorrer ao departamento de veículos motorizados mais próximo, o que poderia representar uma longa jornada, para algumas delas. Embora as carteiras de motorista não distingam as pessoas por raça, o juiz David Souter mencionou estudos relevantes sobre a raça dos portadores desse documento no Estado, em sua opinião dissidente, que contou com a adesão dos juízes Stephen Breyer e Ruth Bader Ginsburg.
Em uma pesquisa conduzida pelo Departamento da Justiça em 1994, foi encontrada entre os negros da Louisiana propensão quatro a cinco vezes maior a não dispor da foto necessária a um documento de identificação. (Para não mencionar falta de acesso a um carro; basta recordar quantos deles não puderam fugir quando o Katrina estava se aproximando.) Uma pesquisa publicada no Wisconsin em 2005 foi ainda mais precisa. Não menos de 53% dos negros adultos no Condado de Milwaukee estavam desprovidos de carteiras de motorista, ante 15% dos adultos brancos no restante do Estado. De acordo com o autor do estudo, disparidades semelhantes podem ser constatadas em todo o país.
A decisão sobre o caso de Indiana não só dificultará o registro de novos eleitores como obrigará muita gente que se registrou sem documentos que portassem foto, no passado, a apresentar um documento com foto na hora de votar. Se o condado de Marion (Indianapolis) tiver proporção de eleitores sem carteira de motorista semelhante à do condado de Milwaukee, minha contagem indica que 44 mil moradores negros do condado precisarão recorrer aos serviços de veículos motorizados para solicitar seu documento estadual de identidade, e garantir que todos os itens de suas requisições sejam preenchidos corretamente. Se estendermos essas proporções ao restante do país, isso significa que muita assistência prática será necessária.


Registros eleitorais


Em 2002, o Congresso aprovou uma lei com o simpático título de "Ajudando a América a Votar", supostamente com o objetivo de impedir que problemas como os que causaram dúvidas sobre o resultado da eleição presidencial de 2000 voltassem a acontecer. Para garantir que os eleitores não enfrentassem problemas em suas seções eleitorais, cada Estado tem a obrigação de manter uma "lista eletrônica de registro de eleitores", de alcance estadual, à qual cada distrito teria acesso eletrônico. Os Estados também foram instruídos a manter essas listas atualizadas, eliminando os eleitores que morrem ou se mudam. Um dos métodos é o envio de cartas a todos os eleitores registrados, e a eliminação dos nomes daqueles eleitores cujas cartas são devolvidas porque eles não puderam ser localizados.
Mas as famílias negras tendem a se mudar mais, especialmente nas cidades, e poucas delas se lembram de notificar as autoridades eleitorais quanto a isso. Quando o Ohio eliminou de seu registro eleitoral 35.427 eleitores não localizados, em 2004, uma revisão constatou que seus endereços ficavam "majoritariamente em áreas urbanas e ocupadas por minorias". Nesse caso, também, o procedimento para retornar ao registro eleitoral pode ser tão trabalhoso quanto o necessário a corrigir um erro em um histórico de crédito.
A Flórida não utiliza o sistema de confirmação postal de eleitores. Em lugar disso, emprega computadores que comparam os nomes dos eleitores aos seus números de Seguro Social, que são depois enviados a Washington (na verdade Baltimore) para determinar se eles procedem.
Quem quer que tenha desenvolvidos esse sistema deveria saber que a Administração do Seguro Social é incapaz de confirmar nomes submetidos em 28% dos casos em que é consultada; por exemplo, nos casos em que se trate do nome de solteira de uma mulher casada, ou do nome de uma mulher que tenha retornado ao seu sobrenome original depois de um divórcio. Para não mencionar a possibilidade de erros de digitação --basta um algarismo errado para impossibilitar a confirmação.
A Flórida também utiliza a lei de ajuda ao eleitor para verificar registros criminais, já que pessoas condenadas por crimes perdem o direito ao voto. Nesse caso, no entanto, estranhamente, o Estado requer que apenas 80% das letras do nome verificado coincidam com o registro. Assim, se existir um sujeito chamado John Peterson condenado por homicídio, o software cassa o direito de voto de todos os homens chamados John Peters.
Tendo em vista as estatísticas raciais quanto à população carcerária, a probabilidade de que os negros tenham nomes que se assemelhem de perto aos de portadores de fichas criminais é muito mais elevada. O sistema adotado pela Flórida para depurar seu registro eleitoral foi aprovado por dois a um em um tribunal federal de recursos, alguns meses atrás. A juíza que dissentiu, Rosemary Barkett, indicada para o posto no governo de Bill Clinton, foi a única a apontar para o impacto racial desproporcional do sistema. Ela afirmou que, embora os negros compreendam 13% do total de eleitores pesquisado, eles respondem por 26% dos eleitores excluídos da lista. Os brancos, que respondem por 66% do total de eleitores, representam apenas 17% dos nomes expurgados. Uma vez mais, se a pessoa tiver tempo e paciência, ela pode alegar que o computador estava errado e tentar localizar documentos que demonstrem que existe e jamais foi criminosa.


O caso dos presidiários


Em proporção às dimensões de nossa população, os Estados Unidos são líderes mundiais em número de pessoas encarceradas, com um total atual de 2,3 milhões de detentos. Entre os presidiários, os negros superam os hispânicos em proporção superior a dois para um e os brancos em proporção de mais de seis para um. Esse é mais um dos motivos para que a proporção de cidadãos negros que não poderão votar este ano seja ainda mais alta porque eles estão entre os 882.300 negros que estão servindo sentenças de prisão ou entre os mais de dois milhões que já cumpriram suas penas, mas ainda assim continuam desprovidos do direito de voto.
De acordo com "Restoring the Right to Vote" [restaurando o direito de votar], um relatório preparado pelo Centro Brennan de Justiça da Escola de Direito da Universidade de Nova York, 13% dos homens negros estão privados do direito de voto, em três Estados 20% deles não votam porque ou estão ou estiveram encarcerados.
Alguns Estados determinam que certos crimes condenam os culpados à perda permanente de seu direito de voto. No caso do Alabama, esses crimes incluem assediar uma criança sexualmente pelo computador, estar de posse de material obsceno e traição. Sim, existem crimes hediondos, mas servir uma sentença supostamente significa que a dívida do condenado para com a sociedade está paga. De fato, o desejo de votar pode ser visto como demonstração de que a pessoa está disposta a aceitar suas obrigações como cidadão.
A Virgínia adota postura especialmente severa quanto a crimes relacionados a drogas, o que representa o principal motivo para que tantos norte-americanos negros estejam aprisionados lá, ainda mais dada a facilidade com que esse tipo de detenção é realizada. Os criminosos libertados precisam esperar por sete anos antes de se registrarem como eleitores, e o pedido precisa ser acompanhado por sete documentos e diversas cartas de referência, e de uma carta ao governador detalhando "como a vida do requerente mudou" e especificando "por que ele acredita que seus direitos devam ser restaurados".
O Mississippi adota regime semelhante: com 155.127 prisioneiros libertados entre 1992 e 2004, o total de pedidos de restauração do direito de voto que as autoridades aprovaram foi de apenas 107. A perda dos direitos políticos dos ex-detentos do Kentucky reduziu em 24% o eleitorado negro potencial do Estado.
De acordo com relatório do Brennan Center, apenas Maine e Vermont permitem que detentos votem (como o fazem em Israel e no Canadá). Treze Estados, entre os quais Pensilvânia e Michigan, permitem que ex-detentos votem, enquanto 25 deles suspendem o direito deles ao voto enquanto estiverem em liberdade condicional. Os outros 10, entre os quais Alabama e Virgínia, dificultam a tal ponto o processo de restauração do direito de voto que a maioria das pessoas prefere nem tentar. E tampouco parece existir nesses Estados qualquer sentimento favorável à remoção das proibições ou redução das barreiras.
Assim, permitir que os ex-detentos voltem a se tornar cidadãos plenos requererá uma campanha longa, que não deve ter muito efeito sobre as próximas eleições.
2)Embora um comparecimento alto do eleitorado negro deva obviamente beneficiar Obama, determinar se ele conquistará a presidência dependerá das decisões dos eleitores brancos (a maioria dos hispânicos se definem como brancos ou não designam raça). No total, 94,2 milhões de brancos norte-americanos participaram da eleição de 2004, ante apenas 13,7 milhões de negros; e 58% dos brancos votaram em George W. Bush, ante apenas 41% que optaram por John Kerry. Assim, a campanha de Obama, mesmo que conte com a ajuda dos eventos externos, teria de convencer muitos brancos a mudar de opinião.
Já existem sinais de perigo. Em três Estados, a questão racial para todos os efeitos constará da cédula. Colorado e Nebraska estão oferecendo aos seus eleitores a oportunidade de proibir programas de ação afirmativa. As propostas em ambos os Estados portam a designação 'iniciativa de direitos civis', por instigação do ativista político negro Ward Connerly, que conseguiu que a ação afirmativa fosse proibida na Califórnia e inspirou campanhas semelhantes em outros Estados.
Os indícios são de que ambas as propostas serão aprovadas, e com votos de sobra. Foi o que aconteceu na Califórnia (1996), em Washington (1998) e no Michigan (2006), Estados que tendem a ser liberais do ponto de vista político. O motivo não é difícil de identificar. Incluir um referendo sobre a ação afirmativa na eleição encoraja as maiorias brancas a se identificar em termos raciais. Elas estarão votando para restaurar seus direitos.
O que poucas vezes se diz abertamente é que muitos brancos norte-americanos se sentem racialmente lesados. Eles são representados por pessoas como Barbara Grutter e Jennifer Gratz, cuja petição pelo fim das medidas de ação afirmativa chegou à Corte Suprema em 2003. Elas alegavam que vagas que de outra maneira lhes teriam cabido na Universidade do Michigan haviam sido concedidas a candidatos negros menos qualificados. Isso significava, em sua alegação, que haviam sido rejeitadas por serem brancas, o que estabelece uma preferência oficial por outras raças. Em decisões separadas, a Suprema Corte sustentou por margem estreita o método de ação afirmativa adotado pela Escola de Direito da universidade, mas forçou a universidade a revisar o sistema adotado para selecionar seus alunos de graduação.
O que raramente vemos mencionado é o fato de que Grutter e Gratz não eram excelentes candidatas. Para expressar sua situação de maneira crua, elas não ocupavam posições elevadas na "lista branca". E muitos brancos se vêem na mesma situação. São eles que não conseguem admissões ou promoções, e por isso sentem que o peso da ação afirmativa recai sobre suas costas. E tampouco se pode afirmar que estejam errados quanto a isso, como Obama observou em seu discurso de Filadélfia.
Além disso, esses sentimentos quanto à ação afirmativa parecem fortes em todo o país, mesmo em Estados nos quais essas questões não tenham sido votadas. O termo "amargurado", que Obama empregou, pode descrever muitas famílias brancas de classe operária ou média cujos filhos terminaram rejeitados por universidades em seus Estados.
Isso explica por que perto de 65% dos eleitores brancos na Califórnia, Washington e Michigan votaram pela proibição, e porque proporções semelhantes são antecipadas no Colorado e no Nebraska em novembro. Assim, uma tarefa da campanha de Obama é garantir que essa causa branca e é esse o nome que a questão merece não influencie a disputa presidencial. Embora os dois Estados contem com apenas 14 votos no colégio eleitoral, eles poderiam fazer diferença.
Duas senadoras democratas, Patti Murray, de Washington, e Debbie Stabenow, do Michigan, podem ter alguns conselhos úteis a respeito. Em 1998 e 2006, era evidente que muitos dos eleitores de cujos votos elas necessitariam para se eleger também apoiariam a proibição à ação afirmativa. No entanto, Murray conseguiu vencer com 58% dos votos e Stabenow obteve 56%.. A maneira pela qual elas conseguiram manter sua campanha separada da causa da rejeição à ação afirmativa, por exemplo enfatizando as questões econômicas, é um exemplo instrutivo.
No momento em que estou escrevendo este artigo, diversas pesquisas de opinião pública dão 47% das preferências a Obama e cerca de 45% a McCain, um declínio de diversos pontos percentuais para Obama, ante as pesquisas de maio e julho. Há muitos respondentes indecisos.
Ao mesmo tempo, as estimativas Estado a Estado do site pollster.com mostram Obama em vantagem em termos de votos no Colégio Eleitoral, mas consideram que 102 desses votos ainda estão completamente em aberto. Mas, tanto agora quanto mais tarde, existe uma chance de que as porcentagens reais sejam o oposto das que mencionei. Algumas pessoas dizem aos pesquisadores que votarão em Obama, mas podem estar mentindo.
Esse tipo de comportamento é conhecido como "o efeito Bradley", uma referência a Tom Bradley, prefeito negro de Los Angeles derrotado em sua candidatura ao governo do Estado, em 1982.
Embora todas as pesquisas o mostrassem na liderança diante de seu oponente branco, o resultado final não foi esse. As coisas não se provaram muito diferentes em outras eleições que envolviam candidatos negros. Em 1989, David Dinkins tinha vantagem de 18% nas pesquisas eleitorais quanto à disputa da prefeitura de Nova York, mas sua margem de vitória foi de apenas 2%.
No mesmo ano, David Wilder era visto como favorito com 9% de vantagem para conquistar o governo da Virgínia, mas sua margem de vitória foi de apenas 0,5% do voto popular. E os exemplos não se limitam ao passado. No Michigan, em 2006, a última pesquisa previa que a proposta quanto à proibição da ação afirmativa venceria com estreitos 51%, mas na verdade ela obteve 58% de aprovação. Trata-se de um efeito Bradley de sete pontos percentuais, o que não é pouco.
Os especialistas em pesquisas justificam dizendo que os respondentes muitas vezes mudam de idéia no último minuto, ou que conservadores se dispõem menos a responder a pesquisas. Um outro fator é que mais eleitores ausentes têm votado pelo correio, e não se sabe de que forma essas decisões antecipadas são refletidas nas pesquisas. Mas o efeito Bradley persiste depois que os eleitores efetivamente votam. Nas pesquisas de boca de urna, os resultados indicam que os eleitores brancos votaram em candidatos negros mas os totais dos distritos em que as pesquisas são conduzidas não confirmam essa votação. Ou seja, os eleitores mentem para pesquisadores que não conhecem e que nunca mais verão.
Barack Obama deseja pensar que "a culpa branca [quanto ao tratamento dos negros] em larga medida se exauriu nos Estados Unidos". Já eu não tenho a mesma certeza. Quase todas as pessoas que rejeitam candidatos negros alegam ter motivos não raciais para fazê-lo. E muitas delas indubitavelmente acreditam no que estão dizendo. Por isso, não estou convencido de que o efeito Bradley não se fará sentir este ano. A direção de campanha de Obama faria bem em imprimir cartazes em letras garrafais para exibição em todos os seus escritórios: SEMPRE SUBTRAIAM 7%!


Déficit histórico


Desde 1968, o Partido Democrata se provou incapaz de conquistar maioria entre os eleitores norte-americanos brancos. Al Gore registrou 12% de desvantagem entre os eleitores brancos em 2000, e quatro anos mais tarde John Kerry perdeu por margem de 17 pontos percentuais nesse grupo.
Tudo começou com a estratégia de Richard Nixon, inicialmente direcionada ao sul do país. Quando os negros conquistaram direitos eleitorais plenos, os democratas, então dominantes, começaram a se transformar em um partido bi-racial, o que desconcertou muitos eleitores brancos. Por isso, Nixon os convidou a aderir ao Partido Republicano, garantindo que, em seu partido, não haveria pressão pela integração.
A fórmula continuou a funcionar quando transferida ao norte do país, com o surgimento de uma ala de eleitores do republicano Ronald Reagan entre os democratas. Na convenção republicana de 2000, havia apenas 85 negros entre os 2.022 delegados do partido. Existe uma proporção desconhecida do eleitorado branco dos Estados Unidos que não deseja apoiar um partido em que os negros estejam plenamente integrados "da mesma forma que", como apontou Darryl Pinckney, "eles não continuariam a viver em uma rua que se tornasse integrada demais".
Tomei o cuidado de não empregar o termo "racismo" até agora. O termo em si se tornou um obstáculo à compreensão. Quando os brancos o ouvem, tendem a congelar e a apresentar uma lista de motivos pelos quais não se aplica a eles. Afinal, a maioria dos norte-americanos admira Oprah Winfrey, gosta de Tiger Woods e respeita Colin Powell.
Mas o racismo persiste, ainda que não expresso publicamente e especialmente na crença de que a pessoa provém de uma categoria superior. Neste caso, porém, não muito brancos consideram Obama como inferior a eles --esnobe e arrogante, talvez, mas ninguém critica seu intelecto. Há algum ressentimento quanto à percepção de que negros desfrutam de privilégios, como vimos no que tange à ação afirmativa, e até mesmo temor de alguma forma de revanche racial.
Mais de metade de um grupo de entrevistados majoritariamente branco em uma pesquisa da Rasmussen disseram sentir que Obama continua a compartilhar de pelo menos algumas das opiniões do reverendo Jeremiah Wright sobre os Estados Unidos.
Quanto aos sentimentos subjacentes, as pesquisas não ajudam muito. Por exemplo, em uma pesquisa da rede de TV ABC e do "Washington Post" em junho, 20% dos brancos que responderam disseram que a raça do candidato influenciaria fortemente o seu voto, e 30% admitiram sentir preconceito racial. Caso o efeito Bradley proceda, talvez um terço dos eleitores considerem as questões raciais como importantes. (Todos conhecemos brancos que votarão em Obama porque querem um presidente negro, o que também é um motivo racial.) Em julho, 70% dos brancos responderam a uma pergunta da rede de TV CBS e do "New York Times" afirmando que sentiam que o país "estava pronto a eleger um presidente negro". É evidente que isso é o que as pessoas se sentem obrigadas a responder, hoje. Mas algumas delas poderiam ter acrescentado "desde que não seja Barack Obama" à sua resposta. As pesquisas não têm como medir as apreensões brancas quanto a ter um negro na chefia do governo.
Michael Tomasky disse que, para vencer, Obama "precisará construir coalizões multi-raciais". O que parece mais necessário, em minha opinião, é a condução de duas campanhas paralelas: uma discreta, para garantir o máximo comparecimento negro, e uma mais pública, para enfatizar ao máximo o apoio branco de que a chapa Obama-Biden já desfruta.
Seus comícios, discursos e propaganda se beneficiariam da presença de rostos brancos, acompanhados por declarações de apoio de veteranos brancos das forças armadas, líderes sindicais e chefes de polícia e bombeiros. Os partidários negros do candidato saberão o que está acontecendo, e não interpretarão o fato como rejeição.

REFERÊNCIA


ANDREW HACKER é cientista político, professor emérito do Queens College, em Nova York, e autor, entre outros, de "Two Nations: Black and White, Separate, Hostile, Unequal" (Duas nações: branca e negra, separadas, hostis, desiguais)


Tradução de PAULO MIGLIACCI


*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/