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terça-feira, outubro 28, 2008

Escolas para o século XXI

Por: David Orr*

Os jovens deverão saber como criar uma civilização que funcione com energia solar, conserve a biodiversidade, proteja solos e florestas, desenvolva empreendimentos locais sustentáveis e repare os estragos infligidos à Terra.Para oferecermos essa educação ecológica,precisamos transformar nossas escolas e universidades.
Na sociedade industrial, a grande maioria considera o sistema educacional, do primário ao doutorado, caro demais, maçante e pouco eficaz. Acham que este precisa de uma reforma radical, mas não sabem como proceder. Uns afirmam que a falha se deve à falta de verbas para laboratórios, bibliotecas, equipamentos, salários e novas instalações — ponto de vista defendido, obviamente, por educadores profissionais. Do outro lado, estão aqueles que defendem o abandono de grande parte do sistema atual, para criar um sistema de escolas organizadas como empresas.Ambos concordam, porém, quanto aos objetivos básicos da educação: primeiro, equipar a sociedade com uma força de trabalho de “categoria mundial” para competir com vantagem na economia global e segundo, fornecer a cada indivíduo os meios para progredir ao máximo.No entanto, existem motivos melhores para repensar a educação, ligados às questões de sobrevivência humana que dominarão o mundo no século XXI. A geração que hoje está estudando terá que fazer aquilo que nossa geração não conseguiu ou não quis fazer: estabilizar a população mundial, fixar e depois reduzir a emissão de gases que ameaçam mudar o clima — proteger a diversidade biológica, reverter a destruição de florestas e conservar o solo, cuja erosão diária atinge milhões de toneladas.As gerações futuras precisam aprender a utilizar melhor a energia e os materiais disponíveis. Precisam aprender a usar a energia solar sob todas as suas formas. Precisam eliminar a poluição e o desperdício. Precisam aprender a administrar recursos renováveis. Precisam iniciar a imensa tarefa de restaurar, da melhor forma, os danos causados à Terra nos últimos 200 anos de industrialização. E tudo isso precisa ser feito, enfrentando as iniqüidades sociais e raciais. Nenhuma geração teve que encarar tamanho programa de trabalho. Continuamos, porém, a educar nossos jovens como se não houvesse nenhuma emergência planetária. Mas, a crise que enfrentamos é principalmente uma crise da mente, da percepção e dos valores — portanto, um grande desafio para as instituições que formam mentes, percepções e valores. Um desafio educacional.Continuando com a mesma educação, que nos permitiu industrializar a Terra, somente vamos piorar a situação. Isso precisa ser dito com ênfase, porque a crise ambiental não é provocada principalmente por pessoas ignorantes, sem escolaridade. É provocada por pessoas de boa formação que, segundo Gary Snyder, “ganham rios de dinheiro, vestem-se impecavelmente, formam-se nas melhores universidades, apreciam pratos finos e lêem bons livros, enquanto orquestram investimentos e leis que arruínam o mundo”. São homens e mulheres com diplomas universitários, educados para pensar que dominar a natureza é nosso direito legítimo. Não estou querendo ir contra o ensino, mas falar a favor do tipo de ensino que prepara as pessoas para um estilo de vida apropriado a um planeta com biosfera sujeita às leis da ecologia e da termodinâmica.As habilidades, aptidões e atitudes necessárias para industrializar a Terra não são necessariamente as mesmas que vamos precisar para curar a Terra ou para estabelecer economias e comunidades sustentáveis. Os grandes desafios ecológicos requerem uma alteração das matérias, do sistema e dos objetivos do ensino, em todos os níveis. Entretanto, o historiador Jaroslav Pelikan, da Universidade de Yale, tem dúvidas quanto à capacidade da universidade para enfrentar esta crise, que não só é ecológica e tecnológica, como também educacional e moral.Para construir uma ordem mundial sustentável, precisamos desmontar o frágil andaime de idéias, filosofias e ideologias que constituem o currículo escolar moderno. Isso requer cinco medidas. Primeiro, precisamos desenvolver verdades mais abrangentes e ecológicas. Os arquitetos da visão atual que temos do mundo, principalmente Galileu e Descartes, consideravam tudo o que podia ser pesado, medido e somado, mais verdadeiro do que aquilo que não pode ser quantificado. Em outras palavras, se não podia ser quantificado, não contava. A filosofia cartesiana era cheia de tropeços ecológicos, que os discípulos de Descartes desenvolveram ao grau máximo. Sua filosofia separava o homem do mundo natural, despia a natureza do seu valor intrínseco e segregava a mente do corpo.Se quisermos salvar espécies e ambientes, precisamos de um conceito mais amplo da ciência e de um raciocínio mais abrangente, que une o conhecimento empírico com as emoções que nos fazem amar e, às vezes, lutar. Descartes e seus discípulos estavam errados: não se pode separar os sentimentos do conhecimento, o objeto do sujeito; não podemos separar a mente ou o corpo do contexto ecológico e emocional. Ciência sem amor não pode oferecer um motivo para apreciar o pôr do sol, nem pode oferecer um motivo objetivo para valorizar a vida. Esses motivos precisam vir de fontes mais profundas.Segundo, precisamos desafiar a presunção contida no currículo oculto, que entende que o domínio da natureza pelo homem é bom; que uma economia de mercado crescente é natural; que todo conhecimento, independente de suas conseqüências, é igualmente valioso e que o progresso material é nosso direito. Nos tornamos incapazes de resistir à sedução da tecnologia, do conforto e do ganho imediato. Sob esse ponto de vista, a crise ecológica é questão de discernir entre vida ou morte, benção ou maldição, e de aprender a escolher a vida.Terceiro, precisamos reconhecer o fato de que o currículo moderno ensina muito sobre individualidade e direitos, mas pouco sobre cidadania e responsabilidade. A emergência ecológica somente pode ser resolvida quando um número suficiente de pessoas adquirir uma idéia mais ampla do que significa ser cidadão. Esse conhecimento precisa ser cuidadosamente adquirido em todos os níveis de ensino.Não se trata apenas de um problema político e social. Hoje, deveríamos ver o quanto dependemos da comunidade mais ampla de seres vivos. Nossa linguagem política não sugere esta dependência. A palavra “patriotismo”, por exemplo, é destituída de conteúdo ecológico. É preciso que ela venha a significar o uso feito da terra, florestas, ar, água e vida selvagem. Abusar dos recursos naturais, desgastar o solo, destruir a diversidade natural, desperdiçar, tomar mais do que o necessário ou deixar de repor o que foi usado — tudo isso precisa, no futuro, ser considerado falta de patriotismo. É preciso que “política” volte a significar, como disse Vaclav Havel, “servir a comunidade e servir aqueles que virão depois de nós”. Quarto, precisamos questionar o conceito amplamente difundido de que nosso futuro é de constante evolução tecnológica e que isso é bom. A fé na tecnologia permeia todo o currículo, aceitando cegamente a noção de progresso. Entretanto, esse progresso não é um caminho escolhido de forma consciente, mas uma crendice tecnológica que avança sem controle através da história. Essas crendices são incorporadas nos aos métodos pedagógicos, sem questionamento. Conhecer a linguagem do computador, por exemplo, transformou-se em meta nacional — incentivada em geral pelos vendedores. Esse fundamentalismo tecnológico precisa ser questionado. As mudanças tecnológicas estão nos levando para onde queremos? Qual é o efeito da tecnologia sobre nossa imaginação, em questões sociais, éticas e políticas? E qual é o seu efeito ecológico?George Orwell tinha prevenido que o “fim lógico do progresso tecnológico é reduzir o ser humano a algo parecido com um cérebro encerrado em uma garrafa”. O pesadelo de Orwell está se transformando em realidade, graças também às pesquisas realizadas nas melhores universidades — pesquisas contrárias às nossas reais necessidades. Nossas necessidades são necessidades do espírito, mas nossa imaginação e criatividade concentram-se na matéria.Um quinto desafio desponta no horizonte, solapando a mais antiga e confortável das premissas: que educação somente pode ter lugar em instituições “educacionais”. Escolas e universidades são caras, lentas, com pouca imaginação, oprimidas pelo peso da tradição e da autocongratulação. Oferecem currículos com disciplinas que pouco correspondem à realidade. A educação ecológica visa provocar uma mudança na ênfase, na lealdade, no afeto e nas convicções, para preencher a lacuna existente entre o homem e seu meio ambiente. Trata-se menos de remendos no status quo, do que de um rompimento com antigos conceitos, com a camisa-de-força dos currículos e até com o confinamento em salas de aula e prédios escolares.Educação ecológica exige, antes de mais nada, a reintegração da experiência no ensino, porque a experiência é um ingrediente indispensável ao raciocínio. Uma boa maneira para obter essa reintegração é utilizar o campus universitário como laboratório para o estudo de alimentos, energia, materiais, água e saneamento. A pesquisa do impacto ecológico de determinada instituição transforma questões abstratas complexas em dimensões compreensíveis — em escala que permite a busca de soluções. Isto representa um antídoto para o desespero sentido pelos alunos, quando compreendem os problemas, mas são incapazes de efetuar mudanças. As universidades precisam observar atentamente o potencial econômico da região, para descobrir como o dinheiro pode ser gasto e investido no local, para ajudar a mover o mundo em direção mais sustentável. Por exemplo, alunos de diversas escolas, que pesquisavam a compra de alimentos, ajudaram a trocar fornecedores distantes por outros mais próximos, permitindo reduzir custos, melhorar a qualidade e impulsionar a economia local.Precisamos ir além. O velho currículo foi elaborado com o objetivo de ampliar ao máximo o domínio do homem sobre a Terra. O novo currículo precisa ser organizado para desenvolver conhecimento ecológico e habilidade prática, essenciais para enquadrar as coisas em um mundo de micróbios, plantas, animais. O modelo ecológico vai cuidadosamente entrosar os objetivos humanos com o mundo natural, para orientar os objetivos humanos.O planejamento ecológico requer capacidade de olhar além das disciplinas, para ver o mundo no contexto mais amplo; requer ampliação do conhecimento ecológico — saber como a natureza trabalha — através de todo o currículo. Significa ensinar aos jovens os fundamentos daquilo que precisam saber para ampliar o horizonte, para criar uma civilização movida a luz solar; que utiliza energia e riquezas com grande eficiência; que preserva o solo, as florestas e a diversidade biológica, que desenvolve empresas locais e regionais sustentáveis; e que repara os danos infligidos à Terra durante toda a era industrial.Mas, precisamos ir ainda mais longe. Chegou o momento de voltar a unir as disciplinas. Para tanto, sugiro que dediquemos parte do currículo, em todos os níveis, ao estudo de um aspecto ou lugar do nosso meio ambiente — um rio, montanha, vale, lago, solo, pântano, determinado animal, pássaros, o céu, a orla marítima ou até mesmo uma pequena cidade. Um curso sobre o rio local poderia começar com uma viagem rio abaixo, para colocar os alunos frente ao objeto do estudo. Depois poderiam escolher diferentes aspectos do rio para estudar: sua evolução, como foi povoado, a ecologia, os peixes e a vida aquática, os efeitos da poluição, as leis que governam o seu uso, e assim por diante. O curso termina com outra viagem, enquanto os alunos descrevem o que aprenderam. Rios, montanhas, lagos são reais; disciplinas são abstratas. O que é real estimula todos os sentidos, não só o intelecto. O conhecimento curricular normalmente é isolado da realidade e muitas vezes é difícil relacioná-lo a realidades ecológicas concretas. Os alunos precisam aprender a apreciar, respeitar e, quem sabe, até mesmo amar uma parte específica do mundo, antes de adquirir o poder implícito no conhecimento puramente abstrato. Se o jovem compreende como o mundo funciona em um sistema integrado e por que esse conhecimento é importante para seus objetivos e seu estilo de vida, ele vai saber também como conseguir uma economia sustentável.Defensores do currículo convencional acreditam que o domínio de uma disciplina, oferecendo conhecimento especializado, é um fim em si. Aconselho revertermos essa prioridade para colocar o conhecimento dentro de um contexto ecológico específico. Desta forma, vamos engajar todos os sentidos dos alunos, não apenas sua inteligência, para que se apaixonem pelo mundo natural. Podemos também ensinar as limitações do conhecimento a respeito de determinado aspecto da natureza — e este é o começo da sabedoria ecológica.Educação ecológica requer também mudanças no funcionamento e nas prioridades de escolas e universidades, assim como no seu modo de operar. Por exemplo, na pesquisa mencionada, os alunos descobriram maneiras de reduzir custos, melhorar serviços, diminuir o impacto sobre o meio ambiente e ajudar a economia local. O princípio é simples: aquelas instituições que pretendem induzir os jovens a tornarem-se adultos responsáveis devem elas próprias mostrar responsabilidade pelo mundo que os jovens herdarão. Instituições de ensino muitas vezes medem seu desempenho pelo investimento por aluno ou pela porcentagem de docentes com Ph. D.. Do ponto de vista ecológico, temos outro conjunto de indicadores da qualidade:1. Emissão de dióxido de carbono por aluno;2. Porcentagem de materiais reciclados;3. Porcentagem de material reciclado adquirido;4. Uso de produtos tóxicos;5. Porcentagem de energia renovável consumida;6. Porcentagem de dejetos orgânicos transformados em adubo; 7. Quantidade de água usada por aluno;8. Porcentagem de alimentos servidos na cantina, que foram cultivados organicamente;9. Carne consumida por aluno.Pensamos que o ensino é feito em edifícios, mas achamos que a construção e operação desses prédios nada têm a ver com educação. Isto é um erro. O currículo oculto na arquitetura acadêmica constitui uma espécie de pedagogia cristalizada, cheia de preconceitos relacionados ao poder, à maneira como as pessoas aprendem, como se relacionam com o mundo natural e como se relacionam uns com os outros. Existem, porém, oportunidades educacionais: o projeto ecológico abrange o paisagismo, a engenharia solar, a seleção dos materiais de construção, a escolha de materiais de consumo duráveis e recicláveis e a eliminação do lixo e dos dejetos.Além de reduzir o impacto sobre o meio ambiente, as instituições de ensino poderiam usar suas verbas para ajudar a economia local e regional. A decisão de comprar alimentos, cultivados organicamente, de produtores locais, pode servir de incentivo para que os agricultores mudem para métodos de produção ecologicamente sustentáveis. O mesmo princípio aplica-se a quase todos os produtos e serviços adquiridos. As instituições de ensino são conhecidas e respeitadas. Todos vão comentar, se uma escola ou universidade comunica que está levando o futuro a sério e, portanto, vai reduzir o impacto sobre o meio ambiente e, ao mesmo tempo, ajudar a economia local e regional.Por fim, algumas palavras sobre o objetivo da educação ecológica. Na maioria das vezes, ouvimos que o ensino é útil porque aumenta as possibilidades de promoção e de ganhar a vida. Preparamos os jovens para aquilo que os orientadores chamam de “carreira”. Raramente mencionamos aquilo que era chamado de “vocação”. Sob uma perspectiva mais ampla, isto é tolice. Os alunos deveriam ser estimulados, antes de mais nada, a descobrirem sua vocação: aquilo que lhes desperta paixão, que realmente gostariam de fazer. A vocação indica o que queremos fazer de nossa vida. A carreira é um plano friamente elaborado para obter segurança e um pouco de “prazer”. A carreira quase sempre revela-se profundamente insatisfatória, não importando a renda. A vocação não é algo calculado, mas o resultado de uma conversa interior sobre aquilo que importa na vida e a contribuição que queremos dar a este mundo. A vocação começa como intuição. É arriscada. É mais inspirada do que premeditada. A carreira é um teste de QI; a vocação é um teste não somente da inteligência, mas também de sabedoria, caráter, lealdade e força moral. A pessoa sempre pode achar uma carreira dentro de sua vocação. É muito mais difícil encontrar, ao longo da vida, uma vocação na carreira. Quando a pessoa opta pela segurança, a sorte está lançada. Em última análise, a carreira é falta de imaginação e sinal de que achamos o mundo pobre em possibilidades.Precisamos encorajar os jovens a encontrar em sua vocação um trabalho bom e necessário. O trabalho melhor e mais necessário no mundo atual procura, de mil maneiras, sintonizar os valores, as instituições, as expectativas e o comportamento humano com o respeito à Terra em que vivemos. Esta é hoje a tarefa da educação.


*David Orr é professor titular de pedagogia na Faculdade de Oberlin, Ohio, EUA.



Fonte: Resurgence nº 160, outubro de 1993.



Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

segunda-feira, outubro 20, 2008

Se oriente, estude mandarim

Por Luiz Carlos Cabrera*


A resistência da economia brasileira a essa impactante crise fi nanceira que vem dos Estados Unidos mostra claramente que ocorreu uma mudança nos chamados eixos fi nanceiros do mundo. As economias emergentes estão desempenhando um papel importantíssimo para o estabelecimento de um novo equilíbrio mundial.
"Em 2015, 60% do PIB mundial virá de países emergentes, como a China"China, Rússia, Brasil, Índia, Coréia do Sul e México resistem à quebra fi nanceira dos grandes bancos americanos graças a seus mercados internos, à produção nacional e à estabilidade de suas moedas e de seus governos. Essa mudança dos eixos econômicos se faz, predominantemente, na direção dos países asiáticos, o que ressuscita um antigo signifi cado da expressão “orientar- se”. No início do século 17, orientar-se era entender o Oriente e sua cultura, suas invenções maravilhosas, sua matemática avançada e os extraordinários conhecimentos náuticos e bélicos. Uma pessoa desorientada era aquela que não tinha essa perspectiva. Com o predomínio da infl uência européia e americana na nossa cultura, a bússola conceitual mudou de posição. Olhamos para o Norte, para os países desenvolvidos, com admiração, norteando nossas ações. A pessoa que não acompanhava o que acontecia no mundo passou a ser chamada de desnorteada, ou seja, que tinha perdido o norte. Pois, agora, é hora de reorientar-se! É hora de entender cada vez mais o que acontece com o Oriente! Em 2015, 60% do PIB mundial virá de países emergentes. A China será a maior potência mundial e, para falar em bancos, provavelmente das dez maiores instituições mundiais só uma será americana. E sabe como isso afeta você? O mercado de trabalho será uma arena global e os profi ssionais dos mercados hoje em desenvolvimento serão disputados por multinacionais chinesas, indianas, coreanas e brasileiras. Para entender esse fenômeno e participar do mercado futuro, é bom você se orientar. Leia mais sobre o Oriente, conheça melhor a história e a cultura desses países e se, você quiser mesmo ser um cara orientado, comece a estudar mandarim.
*Luiz Carlos Cabrera é professor da Eaesp-FGV, diretor da PMC Consultores e membro da Amrop Hever Group.
Fonte: Revista Você S/A
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

quarta-feira, outubro 15, 2008

Processo contra Deus


O senador Ernie Chambers (Foto: Nati Harnik/AP)


Achei muito bizarra essa notícia e resolvi publicá-la. Vejam só as coisas que acontecem nesse mundo. Algumas pessoas ainda tem a coragem de dizer que sou louco. Vejam essa:
"A Justiça de Nebraska, nos Estados Unidos, decidiu arquivar nesta quarta-feira o processo que um senador movia contra Deus. O juiz Marlon Polk, da corte distrital do condado de Douglas, disse que como o senador Ernie Chambers não informou no processo o endereço do réu, a Justiça não teria como notificar Deus. No processo, Chambers acusa Deus de gerar medo e de ser responsável por milhões de mortes e destruições pelo mundo. Segundo ele, Deus gerou “inundações, furacões horríveis e terríveis tornados”. Chambers comentou que Deus fez ameaças terroristas contra ele e seus eleitores. Conforme o senador, ele abriu o processo em Douglas porque Deus está em todos as partes. "Como a corte não tem condições de notificar Deus, é preciso arquivar o processo", afirmou o juiz Marlon Polk em sua decisão. Apesar de significar inicialmente uma "derrota", o senador encarou positivamente a decisão. "A corte reconheceu, desta forma, a existência de Deus", afirmou. "Desta forma, uma das conseqüências de reconhecer Deus é admitir sua onisciência. E, se Deus sabe tudo, Deus foi automaticamente notificado deste processo", completou. Chambers tem agora 30 dias para decidir se vai ou não recorrer do arquivamento do processo".
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

terça-feira, outubro 14, 2008

Aprendendo a Pensar

Para o dia do professor escolhi como post este artigo de Sthepen Kanitz, de quem compartilho muitas idéias. Assim como ele, acredito que a tarefa de um professor deveria ser ensinar a pensar em vez de exigir "decorebas" para míseras provas. E a tarefa do aluno; aprender pensar em vez de memorizar fórmulas e fatos para apenas responder provas de final de disciplina. Ao meu ver, infelizmente, a educação atual não ensina pensar. Pelo contrário, insiste em reproduzir um sistema repetitivo de fórmulas prontas acabadas, as quais, não se aplicam mais num mundo de mudanças constantes e veloz. Abaixo, vejamos o relato de Kanitz:
"A maioria das aulas que tive foi expositiva. Um professor, normalmente mal pago e por isso mal-humorado, falava horas a fio, andando para lá e para cá. Parecia mais preocupado em lembrar a ordem exata de suas idéias do que em observar se estávamos entendendo o assunto ou não.
Ensinavam as capitais do mundo, o nome dos ossos, dos elementos químicos, como calcular o ângulo de um triângulo e muitas outras informações que nunca usei na vida. Nossa obrigação era anotar o que o professor dizia e na prova final tínhamos de repetir o que havia sido dito.
A prova final de uma escola brasileira perguntava recentemente se o país ao norte do Uzbequistão era o Cazaquistão ou o Tadjiquistão. Perguntava também o número de prótons do ferro. E ai de quem não soubesse todos os afluentes do Amazonas. Aprendi poucas coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos.
Curiosamente não ensinamos nossos jovens a pensar. Gastamos horas e horas ensinando como os outros pensam ou como os outros solucionaram os problemas de sua época, mas não ensinamos nossos filhos a resolver os próprios problemas.
Ensinamos como Keynes, Kaldor e Kalecki, economistas já falecidos, acharam soluções para um mundo sem computador nem internet. De tanto ensinar como os outros pensavam, quando aparece um problema novo no Brasil buscamos respostas antigas criadas no exterior. Nossos economistas implantaram no Brasil uma teoria americana de "inflation targeting", como se os americanos fossem os grandes especialistas em inflação, e não nós, com os quarenta anos de experiência que temos. Deu no que está aí.
De tanto estudar o que intelectuais estrangeiros pensam, não aprendemos a pensar. Pior, não acreditamos nos poucos brasileiros que pensam e pesquisam a realidade brasileira nem os ouvimos. Especialmente se eles ainda estiverem vivos. É sandice acreditar que intelectuais já mortos, que pensaram e resolveram os problemas de sua época, solucionarão problemas de hoje, que nem sequer imaginaram. Raramente ensinamos os nossos filhos a resolver problemas, a não ser algumas questões de matemática, que normalmente devem ser respondidas exatamente da forma e na seqüência que o professor quer.
Matemática, estatística, exposição de idéias e português obviamente são conhecimentos necessários, mas eu classificaria essas matérias como ferramentas para a solução de problemas, ferramentas que ajudam a pensar. Ou seja, elas são um meio, e não o objetivo do ensino. Considerar que o aluno está formado, simplesmente por ele ter sido capaz de repetir os feitos intelectuais das velhas gerações, é fugir da realidade.
Num mundo em que se fala de "mudanças constantes", em que "nada será o mesmo", em que o volume de informações "dobra a cada dezoito meses", fica óbvio que ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil e até contraproducente. No dia em que os alunos se formarem, mais de dois terços do que aprenderam estarão obsoletos. Sempre teremos problemas novos pela frente. Como iremos enfrentá-los depois de formados? Isso ninguém ensina.
Existem dezenas de cursos revolucionários que ensinam a pensar, mas que poucas escolas estão utilizando. São cursos que analisam problemas, incentivam a observação de dados originais e a discussão de alternativas, mas são poucas as escolas ou os professores no Brasil treinados nesse método do estudo de caso.
Talvez por isso o Brasil não resolva seus inúmeros problemas. Talvez por isso estejamos acumulando problema após problema sem conseguir achar uma solução.
Na próxima vez em que seu professor começar a andar de um lado para o outro, pense no que você está perdendo. Poderia estar aprendendo a pensar".

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br) Artigo Publicado na Revista Veja, Editora Abril, edição 1763, ano 35, nº 31, 7 de agosto de 2002, página 20.
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

sábado, outubro 11, 2008

Obama: O preço de ser negro


ANDREW HACKERDA NEW YORK REVIEW OF BOOKS


Em maio, Hillary Clinton descreveu muitos de seus principais eleitores como "norte-americanos que trabalham arduamente, norte-americanos brancos". A votação nas primárias da Pensilvânia, Ohio e Virgínia Ocidental serviu para confirmar essa avaliação. A declaração dela parecia alegar --sem fazê-lo diretamente-- uma vantagem sobre Obama, e uma vantagem devida à raça. Mas precisamos saber mais. Podemos compreender que o fato de que alguém seja um agricultor, um operador de mercado financeiro ou um colecionador de armas influencie seu voto. E podemos entender os motivos para que os norte-americanos negros desejem ver uma pessoa de sua raça na Casa Branca. Mas o que exatamente faria com que um eleitor, por ser branco, se inclinasse por um candidato em detrimento de outro?
A senadora Clinton deu a entender que essa identidade era saliente para alguns eleitores, e que ela poderia atrai-los. Pesquisas demonstram que entre 15% e 20% dos eleitores brancos nos três Estados mencionados afirmam que "raça" é um dos fatores que definem seu voto, e ficamos sem saber qual é a importância desse fato e que proporção dos eleitores teria dito a mesma coisa se todos fossem igualmente francos diante dos entrevistadores. As pessoas se sentem incomodadas ao falar sobre o assunto raça, mas persiste o sentimento de que essa parte da herança de Obama possa virar a eleição contra ele em 4 de novembro.
1) Barack Obama só poderá se tornar presidente caso inspire um comparecimento de eleitores às urnas em número superior ao dos votos que ele não obterá. Isso bem pode significar que um número maior de norte-americanos negros terá de ir às urnas do que em qualquer eleição do passado, no mínimo porque o eleitorado é predominantemente branco e não se sabe para onde irá o voto branco. Os obstáculos ao voto negro sempre foram formidáveis, mas este ano haverá barreiras --algumas novas, outras já antigas-- que campanhas anteriores não enfrentaram.
Já há muito tempo, o ímpeto político vinha sendo na direção do voto universal. As qualificações patrimoniais foram abolidas; o imposto a ser pago pelos eleitores foi eliminado; a idade do voto foi reduzida a 18 anos. Mas agora existem forças significativas em ação para reduzir o eleitorado, ostensivamente para combater fraudes e remover do registro eleitoral votantes desqualificados por um ou outro motivo. Mas o efeito real dessas medidas é que dificultam o voto para muitos norte-americanos negros, em larga medida porque eles são mais vulneráveis a essa forma de contestação do que outras partes da população.


Licença para votar


Em uma decisão por seis a três redigida pelo juiz John Paul Stevens no caso Crawford vs. Conselho Eleitoral do Condado de Marion, a Corte Suprema dos Estados Unidos sustentou uma lei adotada em 2005 pelo Estado de Indiana, sob a qual os eleitores do Estado teriam de apresentar um documento estadual dotado de fotografia nas urnas.
Na prática, isso quer dizer carteira de motorista ou passaporte. Já que menos de um terço dos adultos norte-americanos dispõem de passaportes, o caso de Indiana girava basicamente em torno do número de cidadãos adultos desprovidos de carteiras de motorista. Durante as audiências, diversos juízes pressionaram o advogado do queixoso por respostas. Por motivos que eu não consigo compreender, ele persistia em mencionar o número 43 mil, para um Estado cuja população em idade eleitoral é de 4,6 milhões de pessoas.
Na verdade, a Administração Rodoviária Federal, em um relatório facilmente acessível, informa que 673.926 residentes adultos de Indiana estão desprovidos de carteiras de motorista, o que representa o nada trivial total de 14,7% dos potenciais eleitores no Estado. Caso essa porcentagem tivesse sido enfatizada, seria possível conjecturar que os juízes Stevens e Anthony Kennedy mudassem de posição.
Requerer uma carteira de motorista no momento da votação tem efeito desproporcional entre as raças, uma constatação que no passado já atraiu atenção judicial. Para solicitar a carteira estadual de identidade que Indiana oferece como alternativa, além disso, as pessoas que não dirigem precisam recorrer ao departamento de veículos motorizados mais próximo, o que poderia representar uma longa jornada, para algumas delas. Embora as carteiras de motorista não distingam as pessoas por raça, o juiz David Souter mencionou estudos relevantes sobre a raça dos portadores desse documento no Estado, em sua opinião dissidente, que contou com a adesão dos juízes Stephen Breyer e Ruth Bader Ginsburg.
Em uma pesquisa conduzida pelo Departamento da Justiça em 1994, foi encontrada entre os negros da Louisiana propensão quatro a cinco vezes maior a não dispor da foto necessária a um documento de identificação. (Para não mencionar falta de acesso a um carro; basta recordar quantos deles não puderam fugir quando o Katrina estava se aproximando.) Uma pesquisa publicada no Wisconsin em 2005 foi ainda mais precisa. Não menos de 53% dos negros adultos no Condado de Milwaukee estavam desprovidos de carteiras de motorista, ante 15% dos adultos brancos no restante do Estado. De acordo com o autor do estudo, disparidades semelhantes podem ser constatadas em todo o país.
A decisão sobre o caso de Indiana não só dificultará o registro de novos eleitores como obrigará muita gente que se registrou sem documentos que portassem foto, no passado, a apresentar um documento com foto na hora de votar. Se o condado de Marion (Indianapolis) tiver proporção de eleitores sem carteira de motorista semelhante à do condado de Milwaukee, minha contagem indica que 44 mil moradores negros do condado precisarão recorrer aos serviços de veículos motorizados para solicitar seu documento estadual de identidade, e garantir que todos os itens de suas requisições sejam preenchidos corretamente. Se estendermos essas proporções ao restante do país, isso significa que muita assistência prática será necessária.


Registros eleitorais


Em 2002, o Congresso aprovou uma lei com o simpático título de "Ajudando a América a Votar", supostamente com o objetivo de impedir que problemas como os que causaram dúvidas sobre o resultado da eleição presidencial de 2000 voltassem a acontecer. Para garantir que os eleitores não enfrentassem problemas em suas seções eleitorais, cada Estado tem a obrigação de manter uma "lista eletrônica de registro de eleitores", de alcance estadual, à qual cada distrito teria acesso eletrônico. Os Estados também foram instruídos a manter essas listas atualizadas, eliminando os eleitores que morrem ou se mudam. Um dos métodos é o envio de cartas a todos os eleitores registrados, e a eliminação dos nomes daqueles eleitores cujas cartas são devolvidas porque eles não puderam ser localizados.
Mas as famílias negras tendem a se mudar mais, especialmente nas cidades, e poucas delas se lembram de notificar as autoridades eleitorais quanto a isso. Quando o Ohio eliminou de seu registro eleitoral 35.427 eleitores não localizados, em 2004, uma revisão constatou que seus endereços ficavam "majoritariamente em áreas urbanas e ocupadas por minorias". Nesse caso, também, o procedimento para retornar ao registro eleitoral pode ser tão trabalhoso quanto o necessário a corrigir um erro em um histórico de crédito.
A Flórida não utiliza o sistema de confirmação postal de eleitores. Em lugar disso, emprega computadores que comparam os nomes dos eleitores aos seus números de Seguro Social, que são depois enviados a Washington (na verdade Baltimore) para determinar se eles procedem.
Quem quer que tenha desenvolvidos esse sistema deveria saber que a Administração do Seguro Social é incapaz de confirmar nomes submetidos em 28% dos casos em que é consultada; por exemplo, nos casos em que se trate do nome de solteira de uma mulher casada, ou do nome de uma mulher que tenha retornado ao seu sobrenome original depois de um divórcio. Para não mencionar a possibilidade de erros de digitação --basta um algarismo errado para impossibilitar a confirmação.
A Flórida também utiliza a lei de ajuda ao eleitor para verificar registros criminais, já que pessoas condenadas por crimes perdem o direito ao voto. Nesse caso, no entanto, estranhamente, o Estado requer que apenas 80% das letras do nome verificado coincidam com o registro. Assim, se existir um sujeito chamado John Peterson condenado por homicídio, o software cassa o direito de voto de todos os homens chamados John Peters.
Tendo em vista as estatísticas raciais quanto à população carcerária, a probabilidade de que os negros tenham nomes que se assemelhem de perto aos de portadores de fichas criminais é muito mais elevada. O sistema adotado pela Flórida para depurar seu registro eleitoral foi aprovado por dois a um em um tribunal federal de recursos, alguns meses atrás. A juíza que dissentiu, Rosemary Barkett, indicada para o posto no governo de Bill Clinton, foi a única a apontar para o impacto racial desproporcional do sistema. Ela afirmou que, embora os negros compreendam 13% do total de eleitores pesquisado, eles respondem por 26% dos eleitores excluídos da lista. Os brancos, que respondem por 66% do total de eleitores, representam apenas 17% dos nomes expurgados. Uma vez mais, se a pessoa tiver tempo e paciência, ela pode alegar que o computador estava errado e tentar localizar documentos que demonstrem que existe e jamais foi criminosa.


O caso dos presidiários


Em proporção às dimensões de nossa população, os Estados Unidos são líderes mundiais em número de pessoas encarceradas, com um total atual de 2,3 milhões de detentos. Entre os presidiários, os negros superam os hispânicos em proporção superior a dois para um e os brancos em proporção de mais de seis para um. Esse é mais um dos motivos para que a proporção de cidadãos negros que não poderão votar este ano seja ainda mais alta porque eles estão entre os 882.300 negros que estão servindo sentenças de prisão ou entre os mais de dois milhões que já cumpriram suas penas, mas ainda assim continuam desprovidos do direito de voto.
De acordo com "Restoring the Right to Vote" [restaurando o direito de votar], um relatório preparado pelo Centro Brennan de Justiça da Escola de Direito da Universidade de Nova York, 13% dos homens negros estão privados do direito de voto, em três Estados 20% deles não votam porque ou estão ou estiveram encarcerados.
Alguns Estados determinam que certos crimes condenam os culpados à perda permanente de seu direito de voto. No caso do Alabama, esses crimes incluem assediar uma criança sexualmente pelo computador, estar de posse de material obsceno e traição. Sim, existem crimes hediondos, mas servir uma sentença supostamente significa que a dívida do condenado para com a sociedade está paga. De fato, o desejo de votar pode ser visto como demonstração de que a pessoa está disposta a aceitar suas obrigações como cidadão.
A Virgínia adota postura especialmente severa quanto a crimes relacionados a drogas, o que representa o principal motivo para que tantos norte-americanos negros estejam aprisionados lá, ainda mais dada a facilidade com que esse tipo de detenção é realizada. Os criminosos libertados precisam esperar por sete anos antes de se registrarem como eleitores, e o pedido precisa ser acompanhado por sete documentos e diversas cartas de referência, e de uma carta ao governador detalhando "como a vida do requerente mudou" e especificando "por que ele acredita que seus direitos devam ser restaurados".
O Mississippi adota regime semelhante: com 155.127 prisioneiros libertados entre 1992 e 2004, o total de pedidos de restauração do direito de voto que as autoridades aprovaram foi de apenas 107. A perda dos direitos políticos dos ex-detentos do Kentucky reduziu em 24% o eleitorado negro potencial do Estado.
De acordo com relatório do Brennan Center, apenas Maine e Vermont permitem que detentos votem (como o fazem em Israel e no Canadá). Treze Estados, entre os quais Pensilvânia e Michigan, permitem que ex-detentos votem, enquanto 25 deles suspendem o direito deles ao voto enquanto estiverem em liberdade condicional. Os outros 10, entre os quais Alabama e Virgínia, dificultam a tal ponto o processo de restauração do direito de voto que a maioria das pessoas prefere nem tentar. E tampouco parece existir nesses Estados qualquer sentimento favorável à remoção das proibições ou redução das barreiras.
Assim, permitir que os ex-detentos voltem a se tornar cidadãos plenos requererá uma campanha longa, que não deve ter muito efeito sobre as próximas eleições.
2)Embora um comparecimento alto do eleitorado negro deva obviamente beneficiar Obama, determinar se ele conquistará a presidência dependerá das decisões dos eleitores brancos (a maioria dos hispânicos se definem como brancos ou não designam raça). No total, 94,2 milhões de brancos norte-americanos participaram da eleição de 2004, ante apenas 13,7 milhões de negros; e 58% dos brancos votaram em George W. Bush, ante apenas 41% que optaram por John Kerry. Assim, a campanha de Obama, mesmo que conte com a ajuda dos eventos externos, teria de convencer muitos brancos a mudar de opinião.
Já existem sinais de perigo. Em três Estados, a questão racial para todos os efeitos constará da cédula. Colorado e Nebraska estão oferecendo aos seus eleitores a oportunidade de proibir programas de ação afirmativa. As propostas em ambos os Estados portam a designação 'iniciativa de direitos civis', por instigação do ativista político negro Ward Connerly, que conseguiu que a ação afirmativa fosse proibida na Califórnia e inspirou campanhas semelhantes em outros Estados.
Os indícios são de que ambas as propostas serão aprovadas, e com votos de sobra. Foi o que aconteceu na Califórnia (1996), em Washington (1998) e no Michigan (2006), Estados que tendem a ser liberais do ponto de vista político. O motivo não é difícil de identificar. Incluir um referendo sobre a ação afirmativa na eleição encoraja as maiorias brancas a se identificar em termos raciais. Elas estarão votando para restaurar seus direitos.
O que poucas vezes se diz abertamente é que muitos brancos norte-americanos se sentem racialmente lesados. Eles são representados por pessoas como Barbara Grutter e Jennifer Gratz, cuja petição pelo fim das medidas de ação afirmativa chegou à Corte Suprema em 2003. Elas alegavam que vagas que de outra maneira lhes teriam cabido na Universidade do Michigan haviam sido concedidas a candidatos negros menos qualificados. Isso significava, em sua alegação, que haviam sido rejeitadas por serem brancas, o que estabelece uma preferência oficial por outras raças. Em decisões separadas, a Suprema Corte sustentou por margem estreita o método de ação afirmativa adotado pela Escola de Direito da universidade, mas forçou a universidade a revisar o sistema adotado para selecionar seus alunos de graduação.
O que raramente vemos mencionado é o fato de que Grutter e Gratz não eram excelentes candidatas. Para expressar sua situação de maneira crua, elas não ocupavam posições elevadas na "lista branca". E muitos brancos se vêem na mesma situação. São eles que não conseguem admissões ou promoções, e por isso sentem que o peso da ação afirmativa recai sobre suas costas. E tampouco se pode afirmar que estejam errados quanto a isso, como Obama observou em seu discurso de Filadélfia.
Além disso, esses sentimentos quanto à ação afirmativa parecem fortes em todo o país, mesmo em Estados nos quais essas questões não tenham sido votadas. O termo "amargurado", que Obama empregou, pode descrever muitas famílias brancas de classe operária ou média cujos filhos terminaram rejeitados por universidades em seus Estados.
Isso explica por que perto de 65% dos eleitores brancos na Califórnia, Washington e Michigan votaram pela proibição, e porque proporções semelhantes são antecipadas no Colorado e no Nebraska em novembro. Assim, uma tarefa da campanha de Obama é garantir que essa causa branca e é esse o nome que a questão merece não influencie a disputa presidencial. Embora os dois Estados contem com apenas 14 votos no colégio eleitoral, eles poderiam fazer diferença.
Duas senadoras democratas, Patti Murray, de Washington, e Debbie Stabenow, do Michigan, podem ter alguns conselhos úteis a respeito. Em 1998 e 2006, era evidente que muitos dos eleitores de cujos votos elas necessitariam para se eleger também apoiariam a proibição à ação afirmativa. No entanto, Murray conseguiu vencer com 58% dos votos e Stabenow obteve 56%.. A maneira pela qual elas conseguiram manter sua campanha separada da causa da rejeição à ação afirmativa, por exemplo enfatizando as questões econômicas, é um exemplo instrutivo.
No momento em que estou escrevendo este artigo, diversas pesquisas de opinião pública dão 47% das preferências a Obama e cerca de 45% a McCain, um declínio de diversos pontos percentuais para Obama, ante as pesquisas de maio e julho. Há muitos respondentes indecisos.
Ao mesmo tempo, as estimativas Estado a Estado do site pollster.com mostram Obama em vantagem em termos de votos no Colégio Eleitoral, mas consideram que 102 desses votos ainda estão completamente em aberto. Mas, tanto agora quanto mais tarde, existe uma chance de que as porcentagens reais sejam o oposto das que mencionei. Algumas pessoas dizem aos pesquisadores que votarão em Obama, mas podem estar mentindo.
Esse tipo de comportamento é conhecido como "o efeito Bradley", uma referência a Tom Bradley, prefeito negro de Los Angeles derrotado em sua candidatura ao governo do Estado, em 1982.
Embora todas as pesquisas o mostrassem na liderança diante de seu oponente branco, o resultado final não foi esse. As coisas não se provaram muito diferentes em outras eleições que envolviam candidatos negros. Em 1989, David Dinkins tinha vantagem de 18% nas pesquisas eleitorais quanto à disputa da prefeitura de Nova York, mas sua margem de vitória foi de apenas 2%.
No mesmo ano, David Wilder era visto como favorito com 9% de vantagem para conquistar o governo da Virgínia, mas sua margem de vitória foi de apenas 0,5% do voto popular. E os exemplos não se limitam ao passado. No Michigan, em 2006, a última pesquisa previa que a proposta quanto à proibição da ação afirmativa venceria com estreitos 51%, mas na verdade ela obteve 58% de aprovação. Trata-se de um efeito Bradley de sete pontos percentuais, o que não é pouco.
Os especialistas em pesquisas justificam dizendo que os respondentes muitas vezes mudam de idéia no último minuto, ou que conservadores se dispõem menos a responder a pesquisas. Um outro fator é que mais eleitores ausentes têm votado pelo correio, e não se sabe de que forma essas decisões antecipadas são refletidas nas pesquisas. Mas o efeito Bradley persiste depois que os eleitores efetivamente votam. Nas pesquisas de boca de urna, os resultados indicam que os eleitores brancos votaram em candidatos negros mas os totais dos distritos em que as pesquisas são conduzidas não confirmam essa votação. Ou seja, os eleitores mentem para pesquisadores que não conhecem e que nunca mais verão.
Barack Obama deseja pensar que "a culpa branca [quanto ao tratamento dos negros] em larga medida se exauriu nos Estados Unidos". Já eu não tenho a mesma certeza. Quase todas as pessoas que rejeitam candidatos negros alegam ter motivos não raciais para fazê-lo. E muitas delas indubitavelmente acreditam no que estão dizendo. Por isso, não estou convencido de que o efeito Bradley não se fará sentir este ano. A direção de campanha de Obama faria bem em imprimir cartazes em letras garrafais para exibição em todos os seus escritórios: SEMPRE SUBTRAIAM 7%!


Déficit histórico


Desde 1968, o Partido Democrata se provou incapaz de conquistar maioria entre os eleitores norte-americanos brancos. Al Gore registrou 12% de desvantagem entre os eleitores brancos em 2000, e quatro anos mais tarde John Kerry perdeu por margem de 17 pontos percentuais nesse grupo.
Tudo começou com a estratégia de Richard Nixon, inicialmente direcionada ao sul do país. Quando os negros conquistaram direitos eleitorais plenos, os democratas, então dominantes, começaram a se transformar em um partido bi-racial, o que desconcertou muitos eleitores brancos. Por isso, Nixon os convidou a aderir ao Partido Republicano, garantindo que, em seu partido, não haveria pressão pela integração.
A fórmula continuou a funcionar quando transferida ao norte do país, com o surgimento de uma ala de eleitores do republicano Ronald Reagan entre os democratas. Na convenção republicana de 2000, havia apenas 85 negros entre os 2.022 delegados do partido. Existe uma proporção desconhecida do eleitorado branco dos Estados Unidos que não deseja apoiar um partido em que os negros estejam plenamente integrados "da mesma forma que", como apontou Darryl Pinckney, "eles não continuariam a viver em uma rua que se tornasse integrada demais".
Tomei o cuidado de não empregar o termo "racismo" até agora. O termo em si se tornou um obstáculo à compreensão. Quando os brancos o ouvem, tendem a congelar e a apresentar uma lista de motivos pelos quais não se aplica a eles. Afinal, a maioria dos norte-americanos admira Oprah Winfrey, gosta de Tiger Woods e respeita Colin Powell.
Mas o racismo persiste, ainda que não expresso publicamente e especialmente na crença de que a pessoa provém de uma categoria superior. Neste caso, porém, não muito brancos consideram Obama como inferior a eles --esnobe e arrogante, talvez, mas ninguém critica seu intelecto. Há algum ressentimento quanto à percepção de que negros desfrutam de privilégios, como vimos no que tange à ação afirmativa, e até mesmo temor de alguma forma de revanche racial.
Mais de metade de um grupo de entrevistados majoritariamente branco em uma pesquisa da Rasmussen disseram sentir que Obama continua a compartilhar de pelo menos algumas das opiniões do reverendo Jeremiah Wright sobre os Estados Unidos.
Quanto aos sentimentos subjacentes, as pesquisas não ajudam muito. Por exemplo, em uma pesquisa da rede de TV ABC e do "Washington Post" em junho, 20% dos brancos que responderam disseram que a raça do candidato influenciaria fortemente o seu voto, e 30% admitiram sentir preconceito racial. Caso o efeito Bradley proceda, talvez um terço dos eleitores considerem as questões raciais como importantes. (Todos conhecemos brancos que votarão em Obama porque querem um presidente negro, o que também é um motivo racial.) Em julho, 70% dos brancos responderam a uma pergunta da rede de TV CBS e do "New York Times" afirmando que sentiam que o país "estava pronto a eleger um presidente negro". É evidente que isso é o que as pessoas se sentem obrigadas a responder, hoje. Mas algumas delas poderiam ter acrescentado "desde que não seja Barack Obama" à sua resposta. As pesquisas não têm como medir as apreensões brancas quanto a ter um negro na chefia do governo.
Michael Tomasky disse que, para vencer, Obama "precisará construir coalizões multi-raciais". O que parece mais necessário, em minha opinião, é a condução de duas campanhas paralelas: uma discreta, para garantir o máximo comparecimento negro, e uma mais pública, para enfatizar ao máximo o apoio branco de que a chapa Obama-Biden já desfruta.
Seus comícios, discursos e propaganda se beneficiariam da presença de rostos brancos, acompanhados por declarações de apoio de veteranos brancos das forças armadas, líderes sindicais e chefes de polícia e bombeiros. Os partidários negros do candidato saberão o que está acontecendo, e não interpretarão o fato como rejeição.

REFERÊNCIA


ANDREW HACKER é cientista político, professor emérito do Queens College, em Nova York, e autor, entre outros, de "Two Nations: Black and White, Separate, Hostile, Unequal" (Duas nações: branca e negra, separadas, hostis, desiguais)


Tradução de PAULO MIGLIACCI


*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

sexta-feira, outubro 10, 2008

O conceito de virtual

A palavra "virtual" é a bola da vez. Nunca se falou tanto em virtual e virtualização como nos dias atuais. Porém, o conceito ainda causa um certo desconforto nos "neurônios" de muitas pessoas. Nem mesmo entre os estudiosos da questão o conceito parece claro.
Algumas das definições mais comuns do conceito de virtual são estas: a) Algo que é apenas potencial ainda não realizado (a definição histórica)· b) Algo que não é físico, apenas conceitual. c) Algo que não é “ real”. d) A simulação de algo. Para um dos maiores estudiosos contemporâneos dessa questão, Pierre Levy: “A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado...” (LÈVY,1996, p.18). Para esse autor: "O virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual" (LEVY, 1996, p. 18). Dessa forma, podemos concluir que o virtual é real. É a possibilidade da "coisa" se atualizar, se tornar fato concreto. Tecnicamente, a virtualização é uma representação numérica digital de objetos, fenômenos e processos do mundo real. E, o produto da virtualização são objetos virtuais que têm existência num espaço eletrônico que é recriado pelo ser humano através de computador.
Vale lembrar que; a idéia de virtual não é tão nova e recente como muitos acreditam ser. Os princípios de sua formulação ja podem ser encontrados no pensamento de Aristóteles quando este desenvolve os conceitos de ato e potencia. Dessa forma, o virtual é real e está em potência de atualizar-se, ou seja, tornar-se em ato. Ou melhor; passar da potência ao ato.
REFERÊNCIA
LEVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

segunda-feira, outubro 06, 2008

Pesquisa em Direito no Brasil

No artigo publicado em julho de 2003, intitulado: Apontamentos sobre a pesquisa em Direito no Brasil, o professor de filosofia da Unicamp e pesquisador do Cebrap, Marcos Nobre, apresenta um diagnóstico da situação da pesquisa em Direito no país. Marcos Nobre qualifica o campo da pesquisa jurídica como pouco desenvolvida no Brasil em relação às outras áreas de ciências humanas. Ele apresenta como principal entrave dois fatores: o isolamento da disciplina do Direito em relação as demais e uma confusão que resulta na dicotomia entre prática profissional e pesquisa acadêmica. Nobre aponta o diagnóstico feito pelo CNPq na década de 80 no qual é manifesto a realidade onde as faculdades de direito do país não produzem o que ensinam. O ensino do Direito no país fica mais a cargo de profissionais que pautam o ensino pela sua experiência profissional e não por uma produção acadêmica baseada em critérios de pesquisa científica. O autor ressalta ainda como entrave do avanço da pesquisa em Direito no Brasil a visão "estreita" do direito. E o mercado de trabalho em direito no Brasil, pouco exigente contribui para a manutenção desse quadro. Mas, a partir da abertura econômica, na década de 90, essa situação começou a mudar e a concepção estreita do direito se revelou um problema. Marcos Nobre finaliza o artigo citando os modelos acadêmicos europeus, e ressalta a qualidade do ensino jurídico alemão e o investimento maciço em pesquisa deste país. Ressalta ainda a catástrofe que significa a manutenção do modelo vigente de pesquisa e ensino jurídico no Brasil.
REFERÊNCIA
NOBRE, Marcos. Apontamentos sobre a pesquisa em Direito no Brasil. Novos Estudos Cebrap. São Paulo. jul. 2003. p. 145-154.
* Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

sábado, outubro 04, 2008

Talvez

Brindo-o com esse belissímo texto de um grande sábio. Boa leitura e reflexão!
"Talvez eu venha a envelhecer rápido demais. Mas lutarei para que cada dia tenha valido a pena. Talvez eu sofra inúmeras desilusões...Mas farei com que elas percam a importância diante dos gestos de amor que encontrei. Talvez eu não tenha forças para realizar todos os meus ideais. Mas jamais irei me considerar um derrotado. Talvez em algum instante eu sofra uma terrível queda. Mas não ficarei por muito tempo olhando para o chão...Talvez um dia o Sol deixe de brilhar. Então, irei me banhar na chuva. Talvez um dia eu sofra alguma injustiça. Mas jamais irei assumir o papel de vítima. Talvez eu tenha que enfrentar alguns inimigos. Mas terei humildade para aceitar as mãos que se estenderão em minha direção. Talvez eu seja enganado inúmeras vezes. Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar alguém merece a minha confiança. Talvez com o tempo eu perceba que cometi grandes erros. Mas não desistirei de continuar trilhando meu caminho. Talvez com o decorrer dos anos eu perca grandes amizades. Mas irei aprender que aqueles que realmente são meus verdadeiros amigos nunca estarão perdidos. Talvez eu fique triste ao concluir que não consigo seguir o rítmo da música. Mas então, farei que a música siga o compasso dos meus passos. Talvez eu não consiga mais enxergar um arco-iris. Mas aprenderei a desenhar um, nem que seja dentro do meu coração. Talvez hoje eu me sinta fraco. Mas amanhã irei recomeçar, nem que seja de uma maneira diferente. Talvez eu não aprenda todas as lições necessárias. Mas terei a consciência que os verdadeiros ensinamentos já estão gravados em minha alma. Talvez eu não tenha motivos para grandes comemorações. Mas não deixarei de me alegrar com as pequenas conquistas. Talvez eu não seja exatamente quem eu gostaria de ser. Mas passarei a admirar quem sou. Porque no final saberei que, mesmo com incontáveis dúvidas, eu sou capaz de construir uma vida melhor. E, se ainda não me convenci disso, é porque como diz aquele ditado: "ainda não chegou o fim" porque no final, não haverá nenhum "talvez", mas a certeza de que a minha vida valeu a pena e eu fiz o melhor que poderia."
[Aristóteles Onásis]
* Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/

sexta-feira, outubro 03, 2008

Quase

Recebi esse texto de uma amiguinha. Li, gostei e postei. Ele toca algumas das nossas "crenças" e "verdades" que nos foram passadas ao longo da vida, como por exemplo; a idéia do "meio termo" defendida pelo filósofo Aristóteles.
"Ainda pior que a convicção do Não e a incerteza do Talvez é a desilusão de um Quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto!
A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance. Para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente a paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance!
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando; porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

[Sarah Westphal]
* Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/