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terça-feira, dezembro 09, 2008

Liderança está tão em falta quanto o crédito

1 de Outubro de 2008 - Em 1933, Franklin Roosevelt herdou uma crise econômica. Ele entendeu que sua primeira tarefa era restaurar a confiança, passar às pessoas a percepção de que alguém estava no comando, que algo seria feito.Essa geração de líderes políticos confronta uma situação similar, e, até agora, de forma cabal e catastrófica, eles não conseguiram projetar qualquer percepção de autoridade, dar ao mundo qualquer motivo para acreditar que esse país está sendo governado. Em vez disso, ao rejeitarem o pacote de resgate na segunda-feira, eles tornaram o clima psicológico muito mais grave.Depois de gastar todo seu prestígio com republicanos e democratas, George W. Bush perdeu completamente seu poder de influência. O secretário do Tesouro, Henry Paulson, é inteligente como financista, mas inepto como legislador. Ele foi avisado sucessivas vezes que os republicanos da Câmara dos Representantes não dariam apoio ao seu projeto de lei, e sua resposta foi cair de joelhos perante a presidente da casa, Nancy Pelosi.Os líderes dos dois partidos na Câmara estavam completamente imersos nas suas próprias negociações, mas ocorreu a qualquer um deles que pode ser difícil aprovar um projeto de lei descrito como uma operação de resgate para Wall Street? Estava o querido da mídia Barney Frank ocupado demais para notar os 95 democratas que se opuseram ao seu projeto de lei? O discurso fervoroso de Pelosi no momento decisivo não matou de verdade esse projeto de lei, mas ela tinha de agir como levantadora de fundos para o Partido Democrata no momento mais importante de sua carreira?E vamos dar o devido reconhecimento a todos os 228 representantes que votaram não - os autores dessa revolta de niilistas. Eles mostraram ao mundo o quanto detestam seus próprios líderes e o conhecimento acumulado pelo Departamento do Tesouro e pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Eles praticaram a ação popular do momento, e se o país entrar num período de profunda recessão, eles terão o tempo livre para ver a opinião pública se voltar contra eles.Os republicanos da Câmara dos Representantes lideraram o caminho e receberão a maior parte da culpa. Tem sido interessante observá-los na missão resoluta de destruir o Partido Republicano. Há não muito tempo, eles lideraram uma cruzada anti-imigração que afastou o apoio dos hispânicos. Daquela vez eles também ouviram as vozes mais clamorosas e iradas do partido, ignorando as complicadas ansiedades que se ocultam nas mentes da maioria dos americanos.Agora eles confundiram mais uma vez o que se diz nos programas de rádio com a realidade. Se a economia entrar em declínio, eles entrarão para a história como os Smoot-Hawleys do século XXI. Com essa votação, eles recebem responsabilidade por essa economia, e serão responsabilizados. Os golpes de curto prazo serão desferidos em John McCain, a pressão de longo prazo será exercida sobre a existência do Partido Republicano, tal como o conhecemos.Tenho conversado com diversos republicanos da Câmara dos Representantes nos últimos dias e causa admiração como a maioria acredita nos princípios do livre mercado. O triste é que ainda pensam que estamos em 1984. Ainda acreditam que a maior ameaça vem do socialismo e do liberalismo estilo Walter Mondale. Parecem não ter notado como os fluxos de capitais globais têm transformado nossa política econômica.Vivemos numa era em que um vasto excesso de capital transborda ao redor do mundo estimulando ciclos de bolhas e estouros de bolhas. Quando o capital inunda um setor ou uma economia, arrasta consigo práticas sóbrias de negócios, e hábitos de disciplina e abnegação. Então os gestores de recursos entram em pânico e o capital é retirado, punindo igualmente os justos e os injustos.O que necessitamos nessa situação é de autoridade. Não a mão pesada da regulamentação governamental, mas a firme e poderosa mão de algumas instituições públicas que podem proteger contra as influências corruptoras do dinheiro fácil e então impedir os contágios destrutivos quando o crédito seca.O plano do Congresso não era o preferido de ninguém, mas era um esforço para afirmar alguma autoridade. Era um esforço para alterar a psicologia dos mercados. As pessoas não confiam nos bancos; os banqueiros não confiam uns nos outros. Era um esforço para resolver a crise de autoridade em Washington. Pelo menos poderia ter estabilizado a situação de modo que as reformas fundamentais da arquitetura financeira do mundo poderiam ser empreendidas posteriormente.Mas os 228 membros da Câmara dos Representantes que votaram não exacerbaram a queda livre psicológica global, e agora temos uma crise de autoridade política além da crise de autoridade financeira.A única coisa a fazer agora é tentar novamente - resgatar o resgate. Não há tempo para encontrar um novo pacote, então o plano do Congresso deve ir novamente a votação amanhã, desta vez com adendos que podem alterar suas perspectivas políticas. Os líderes têm de adicionar provisões para sustentar os preços das residências e ajudar diretamente os detentores de hipotecas. Martin Feldstein e Lawrence Lindsey têm boas propostas do tipo que podem resultar numa coalizão plausível da maioria. Também será bom relaxar as regras de seguro de depósitos.Se isso não ocorrer, o mundo pode se preparar para tempos econômicos duros (os europeus, aparentemente, ainda nem começaram a reconhecer seus títulos de dívidas tóxicos) - mas também tempos políticos duros.O século americano foi criado pela liderança americana, que hoje em dia está mais escassa do que o crédito.
FONTE:
Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13 - David Brooks - The New York Times.
*Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES.
Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/