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domingo, novembro 23, 2014

Um mapa fantástico!

O mapa que qualquer pessoa que ama viajar deve ter por perto

Fonte: Revista Galileu

Mapa 'Endônimos do Mundo' mostra o nome de cada país grafado na língua local (Foto: Reprodução)
Você já ouviu falar no termo endônimo? Trata-se de um conceito não muito conhecido que abrange, basicamente, qualquer nome de país que esteja grafado no idioma e alfabeto locais daquele território. É o contrário deexônimo, que é justamente quando estrangeiros tomam a liberdade de adaptar os nomes próprios de lugares para a sua própria língua. No nosso caso, por exemplo, "abrasileiramos" London para Londres, Deutschland para Alemanha e New York para Nova Iorque.
Quando viajamos para o exterior e imergimos em culturas e tradições completamente distintas das nossas, o mínimo que podemos fazer é um esforço para entender aquele contexto. A começar pelo nome oficial da localidade, tal qual é utilizado pelos habitantes nativos e suas autoridades. Por este motivo o mapa Endonyms of the World é tão interessante para viajantes: seja por mera curiosidade, ou então para entender melhor a identidade do país que será seu destino.
O mapa possui o recurso de zoom e tem alta resolução, o que permite ler os nomes de países menores. Também inclui pequenos planisférios nas bordas retratando a distribuição geográfica das comunidades linguísticas mais expressivas do mundo: inglês, francês, árabe e espanhol. Segundo o criador, as quatro juntas abrangem 60% dos 254 países e territórios oficialmente reconhecidos.
Os finlandeses chamam sua terra natal de Suomen Tasavalta, e os noruegueses deKongeriket Norge:
 (Foto: Reprodução)
No Timor-Leste, apesar de uma das línguas oficiais ser o português, a grafia é um ~pouKo diferente da nossa: Repúblika Demokrátika Timór-Leste. O endônimo de Papua-Nova Guiné, marcado por uma mistura do inglês com dialetos locais, é Independen Stet Bilong Papua Niugini.
 (Foto: Reprodução)
Clique aqui para navegar pelo mapa e conferir mais detalhes.

sexta-feira, novembro 21, 2014

Sobre a corrupção atual

RICARDO SEMLER
TENDÊNCIAS/DEBATES

Nunca se roubou tão pouco

Não sendo petista, e sim tucano, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país

quinta-feira, novembro 20, 2014

Sobre a operação "lava jato"

Fonte: página do facebook
Os sentidos da operação "lava-jato": devolve, Gilmar!

[Uma leitura - um pouco longa para os padrões do Facebook, mas curta para os padrões dos jornais - para que quer ir além]

A operação "lava-jato" poderia ser uma oportunidade excepcional, dessas que quase nunca ocorrem, para discutir seriamente o problema da corrupção no Brasil e a forma com que ela prejudica a democracia. Pela primeira vez, as principais empreiteiras estão sendo investigadas e 21 executivos foram presos pela Polícia Federal, entre eles os presidentes de algumas delas. Não estamos falando de quaisquer empresas, mas daquelas que realizam as mais importantes obras públicas, financiadas pelos governos federal, estaduais e municipais de diferentes partidos, e que, ao mesmo tempo, são as principais financiadoras das campanhas eleitorais que elegeram esses governantes. Os grandes esquemas de corrupção - que sempre são apresentados pela cobertura jornalística, de forma falaz, como se fossem apenas uma espécie de degeneração moral de determinadas pessoas - geralmente associada ao partido que está no governo, revelam-se no caso da “lava-jato” como o que realmente são: um componente fundamental de um sistema econômico e político controlado não por funcionários corruptos, mas pelas empresas corruptoras.
Repassemos alguns dados.
As empreiteiras investigadas são nove: OAS, UTC, Queiroz Galvão, Odebrecht, Camargo Corrêa, Iesa, Galvão Engenharia, Mendes Junior e Engevix. Juntas, elas têm contratos com a Petrobrás de 59 bilhões de reais. Só no Rio de Janeiro, três dessas empreiteiras (OAS, Camargo Corrêa e Odebrecht) participam, associadas em diferentes consórcios, das dez maiores obras da Copa do Mundo e as Olimpíadas (linha 4 do metrô, Maracanã, Parque Olímpico, Transcarioca, Transolímpica, Porto Maravilha, etc.) por um valor total de 30 bilhões. Elas têm contratos com governos de quase todas as cores. Várias delas também participam da privatização dos aeroportos e das obras do PAC, do governo federal, mas também das obras do metrô de São Paulo, envolvidos num caso de corrupção pelo qual é investigado o governador Geraldo Alckmin, que também recebeu dinheiro de empreiteiras para sua campanha.
Com negócios diversificados e participação em diferentes escândalos de corrupção, a lista das empreiteiras mais importantes do país é liderada pela Odebrecht que, segundo o ranking da revista "O empreiteiro", tem um faturamento de 5.292 bilhões de reais. Você sabe quanto dinheiro "doou" essa empresa para diferentes partidos e candidatos nas últimas eleições? Mais de 30 milhões de reais! A Odebrecht doou para todos os seguintes partidos: PSDB, PT, PSB, PMBD, PP, DEM, PCdoB, PV, Solidariedade, PROS, PRB, PSD, PPS, PSC, PCdoB, PTC e PSL. Eles doaram 2,95 milhões para a campanha da Dilma, 2 milhões para a campanha do Aécio e 500 mil para a campanha de Eduardo Campos (depois somou quase 50 mil a mais para a campanha da Marina), mas também para candidatos a governador e deputado e para os comitês financeiros e as direções nacional e estaduais de diferentes partidos.
De todos os partidos que elegeram representantes para o Congresso Nacional, o único que não recebeu dinheiro de nenhuma das empreiteiras investigadas (aliás, de nenhuma empreiteira!) foi o PSOL. Sim, foi o único!
A segunda maior empreiteira do ranking, com um faturamento de 5.264 bilhões, é a Camargo Corrêa, que doou, por exemplo, 1,5 mi para o DEM. A empreiteira Queiroz Galvão fez doações de campanha por mais de 50 milhões, beneficiando candidatos de 15 partidos, entre os quais o PT, o PSDB, o PMDB, o DEM e o PSB. Também doaram 200 mil reais para a campanha do nanico pastor Everaldo. Outra campeã das doações foi a OAS, com uma generosidade política de mais de 52 milhões que beneficiou Aécio, Dilma Marina e candidatos de 12 partidos. A UTC fez doações de 34 milhões e também foi ampla na distribuição, beneficiando a 11 partidos, entre os quais estavam os mais importantes da situação e da oposição. E por aí vai. Todas elas estão envolvidas na investigação da Polícia Federal.
Alguns candidatos não recebem dinheiro de uma determinada empresa de forma direta, mas essa empresa doa para o comitê do partido, ou para sua direção nacional ou estadual, que por sua vez faz uma doação ao candidato. Ou então a empresa pode doar para um candidato a deputado, que depois faz uma doação para o candidato a presidente, ou vice-versa. Algumas empresas têm diferentes denominações, cada uma com um CNPJ distinto. Mas a quantidade de dinheiro que sai da União, dos Estados e municípios e vai para as empreiteiras mediante contratos para obras públicas, e que sai das empreiteiras e vai para os candidatos e seus partidos, é imensa. E essa promiscuidade entre política e mundo dos negócios produz enormes prejuízos para a democracia.
O problema não é apenas a corrupção direta, a propina e a lavagem de dinheiro. É também o poder que essas empresas têm para desbalancear o sistema democrático, apoiando determinados candidatos e candidatas com quantias absurdas de dinheiro que fazem com que os e as concorrentes de outros partidos tenham pouquíssimas chances de vencer, a não ser que entrem no esquema.
Nas últimas eleições, 326 parlamentares tiveram suas campanhas financiadas por empreiteiras (nenhum do PSOL!). E, entre eles, 255 receberam dinheiro das envolvidas na operação "lava-jato". Façamos as contas. Os candidatos das empreiteiras são maioria no Congresso! Dentre eles, 70 deputados e 9 senadores são citados nas investigações. E há governistas e opositores — inclusive petistas e tucanos (mas alguns jornais e revistas citam apenas os petistas).
O financiamento empresarial das campanhas favorece esse esquema e prejudica os que não querem fazer parte dele. Eu fui o sétimo deputado federal mais votado do estado do Rio de Janeiro, com 144.770 votos, e a receita total da minha campanha foi de 70, 892.08 mil reais em doações físicas, sendo que, destes, 14 mil correspondem a trabalhos de voluntários. Não recebi (e nem quero!) um centavo das empreiteiras.
Agora vou dar um exemplo contrário: deputado Eduardo Cunha, que teve 232.708 votos e foi o terceiro mais votado do estado, declarou uma receita de mais de 6,8 milhões de reais! Sim, você leu bem: quase 7 milhões. Os diretórios nacional e estadual do PMDB, seu partido, que também doou dinheiro para ele, receberam "ajuda" da OAS (3,3 milhões), da Queiroz Galvão (16 milhões), da Galvão Engenharia (340 mil) e da Odebrecht (8 milhões). O PMDB governa o estado que dá a algumas dessas empreiteiras obras públicas milionárias. Isso sem falar dos bancos, empresas de mineração, shoppings e outros empreendimentos que depositaram na conta de Cunha.
Vocês percebem como o é injusto e antidemocrático que um candidato honesto, que conta apenas com doações de amigos, militantes e simpatizantes, contra outro que recebe quase 7 milhões de bancos e empreiteiras? Vocês percebem como isso faz com que nosso poder, eleitor, seja cada vez menor, e com que o poder da grana se imponha cada vez mais?
Agora pense no seguinte: Eduardo Cunha pode ser o próximo presidente da Câmara dos Deputados! Ele é um dos cérebros da bancada fundamentalista, foi o grande articulador da presidência da CDHM para o pastor Marco Feliciano e é o porta-voz do que há de mais reacionário, retrógrado, conservador e antipopular no Congresso. Algumas pessoas acham que o grande vilão da direita é Jair Bolsonaro, mas na verdade, ele é apenas um personagem caricato, bizarro, que tem mais holofotes do que merece. O verdadeiro poder radica em personagens menos conhecidos, como Cunha, que se mexem nas sombras. E as doações milionárias entram na conta dele.
Mas eu comecei dizendo que tudo o que está acontecendo em torno da operação lava-jato poderia ser uma oportunidade excepcional para discutir seriamente o problema da corrupção no Brasil e a forma com que ela prejudica a democracia. Poderia ser, mas não está sendo. A maioria da imprensa e alguns líderes da oposição com espaço na mídia estão tentando passar a impressão de que se trata, apenas, de um novo "escândalo de corrupção do PT". Delegados e fontes do judiciário ligadas a partidos de direita vazam de forma seletiva informações que envolvem apenas os corruptos petistas, mas escondem as que poderiam prejudicar os corruptos tucanos ou de outros partidos. Tudo passa a ser “culpa da Dilma, do Lula e dos petralhas". E o PSDB e seus aliados da direita tentam se apropriar da operação e se apresentar como os paladinos da moral e da honestidade que querem nos livrar dessas mazelas. Hipócritas!
É claro a corrupção na Petrobrás durante os governos petistas que tem que ser investigada — mas também durante os governos tucanos e os governos anteriores aos tucanos! É claro que temos que investigar todos os funcionários e parlamentares envolvidos nos esquemas, seja do partido que forem. O PT e seus aliados têm uma enorme responsabilidade nisso tudo. Mas enquanto pensarmos na corrupção apenas como uma sucessão de casos particulares e olharmos para ela apenas como um problema moral seremos como aquele personagem da publicidade "Sabe de nada, inocente!". O escândalo está sendo instrumentalizado por uma parte da imprensa não apenas para atacar o governo, mas também para colocar a Petrobrás no alvo de discursos privatizadores! Ou seja, a questão é muito mais complexa!
Por isso, e se realmente quisermos fazer algo que tenha impacto real contra a corrupção, o primeiro passo é acabar com o financiamento empresarial de campanha. A OAB apresentou no Supremo Tribunal Federal uma ADIN (ação direta de inconstitucionalidade) para proibi-lo, e tem todo o apoio do PSOL. Seis dos onze ministros já votaram favoravelmente, mas o ministro Gilmar Mendes, Advogado Geral da União durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, pediu vistas do processo em abril desse ano e, desde então, nada fez a respeito. Diversos movimentos sociais e políticos lançaram a campanha #devolvegilmar, para que o ministro conclua suas vistas e permita que ela seja julgada. O fim do financiamento empresarial de campanhas deveria ser, também, um dos principais eixos da reforma política que o Brasil precisa. Porque com um Congresso cujos integrantes foram financiados pelas principais empreiteiras envolvidas nesses esquemas, não haverá "CPI das empreiteiras", da mesma forma que não avançará a CPI da Petrobrás. Tudo será tratado como mais um escândalo.
Se quisermos que a corrupção deixe de ser, apenas, o tema favorito das manchetes de jornal, e passe a ser combatida de forma realista e eficaz, sem hipocrisia, precisamos produzir reformas estruturais no sistema político e econômico e não apenas fazer julgamentos morais partidarizados. Precisamos cortar um dos principais rios de dinheiro que corrompe a política e, ao mesmo tempo, diminui o poder dos eleitores, transformando os governos e o Congresso em reféns dos interesses de um pequeno grupo de empresários com negócios bilionários.

Devolve, Gilmar! Vamos falar sério dessa vez!

terça-feira, novembro 18, 2014

Coisas do século XXI?

Focas estupram pinguins no Atlântico; pesquisadores tentam entender 

Focas fêmeas são muito disputadas entre os machos da espécie 
Fonte: R7
Pesquisadores ainda não sabem o motivo do ataque aos pinguinsFoto: Reprodução
Um grupo de cientistas busca esclarecer um fenômeno recente na Ilha Marion, no Atlântico Sul. Um estudo divulgado pela revista “Polar Biology” afirma que focas estão abusando sexualmente de pinguins nesse local. A equipe descobriu três casos semelhantes nos últimos 30 anos.
"Em termos humanos, você chamaria isso de estupro", disse um dos pesquisores. "Os pinguins reagem como se o predador estivesse tentando matá-los, porque enquanto as focas praticam o ato, eles lutam por suas vidas, mas elas são muito maiores e mais fortes e, por isso,  elas facilmente dominam os pinguins".
Em um dos casos, a foca tentou copular com um pinguim, e, em seguida, o matou. Os pesquisadores ainda não sabem o motivo do ataque agressivo por parte das focas. No início da pesquisa, acreditava-se que este era um comportamento normal entre focas e pinguins para a sobrevivência na natureza.  Sabe-se agora que o ato faz parte de algo incomum, ainda sem explicação.
Uma teoria é de que talvez a concorrência pelas focas fêmeas esteja aumentando, fazendo com alguns machos mais jovens ataquem os pinguins, que são seus companheiros mais próximos.
"É um pouco desconcertante, chocante e, estranhamente embaraçoso ver a cena, mas definitivamente não há  nada de engraçado nisso", disse um dos pesquisadores.

domingo, novembro 16, 2014

Como atrair talentos para a sala de aula?

Barbara Bruns: "O Brasil não atrai talentos para a carreira de professor"

Economista-chefe do Banco Mundial diz que a baixa qualidade dos docentes impede avanços na qualidade da educação do país

Fonte:  Época

CAMILA GUIMARÃES

A baixa qualidade do professor na América Latina é a principal limitação para o avanço da educação nos países da região, incluindo o Brasil. A qualidade dos docentes é comprometida por um fraco domínio do conteúdo acadêmico e por falta de habilidade na prática de sala de aula. Essa é uma das principais conclusões do estudo Professores Excelentes: Como Melhorar a Aprendizagem dos Estudantes da América Latina e do Caribe, do Banco Mundial, que será lançado em livro, em português, no final de novembro (um resumo do estudo pode ser lido aqui). “Nenhum corpo docente da região pode ser considerado de nível global”, afirma Barbara Bruns,  economista-chefe da área de educação do Banco Mundial, responsável pelas pesquisas sobre qualidade da educação na América Latina e Caribe.“Mas alguns países, como o Chile e a Colômbia, estão fazendo mudanças significativas.” Sobre o Brasil, Barbara afirma que é urgente achar formas de melhorar a qualidade da formação de novos professores e de medir o desempenho dos que já estão na ativa. Só assim o país conseguira dar um salto na qualidade da educação.

ÉPOCA: Até que ponto a qualidade do professor impacta o desempenho dos alunos?
Barbara Bruns: Muitas pesquisas educacionais mostram que o aprendizado – as notas dos alunos, seu sucesso na trajetória escolar e depois na faculdade – está muito ligado à condição socioeconômica da família. Essas pesquisas eram valiosas porque foram feitas em uma época em que tínhamos pouca capacidade de medir o que acontecia dentro da escola. Agora, nós temos muitos dados que analisam o desempenho do professor na sala de aula e descobrimos que o impacto do professor é muito maior do que poderíamos imaginar. Pesquisas atuais e reconhecidas nos permitem saber que alunos com o mesmo nível socioeconômico podem aprender mais ou menos, de acordo com o professor.
ÉPOCA: Em que os professores do Brasil precisam melhorar?

Barbara : Em basicamente três pontos. O primeiro, atrair para as faculdades de pedagogia mais alunos que sejam talentosos e tenham grande capacidade de ser professores. O Brasil, assim como outros países da América Latina, não atrai os melhores e mais brilhantes alunos do ensino médio. Estes procuram outras carreiras, outras profissões. Uma das coisas que o Brasil precisa fazer é achar um jeito de atrair esses cérebros e transformá-los em professores. O segundo é melhorar a qualidade dos professores que já estão trabalhando. Qualquer que seja a medida ou política que o governo adote para melhorar a atratividade da carreira, ela terá resultado no longo prazo. Todos os países que investiram para atrair novos talentos também tinham estratégias para melhorar a qualidade de quem já estava no sistema. Isso é um desafio, porque, assim como em outros países, o Brasil gasta muito dinheiro em cursos de capacitação de professores sem efeito.
ÉPOCA: Que tipo de habilidades têm de ser estimuladas?

Barbara : As essenciais: como fazer boa gestão da sala de aula, do tempo da aula, se comunicar com clareza com os alunos, preparar lições e provas. Visitei inúmeras salas de aula no Brasil inteiro, observando alunos e professores. Na maioria das classes, pelo menos 30% dos alunos não prestavam atenção na aula. O Brasil precisa medir a qualidade dos professores. Sabemos que para entrar na rede pública muitos passam por concursos, mas muitos não têm qualificação mínima, apesar dos títulos. O Brasil precisa saber o que de fato sabem seus professores, para poder ajuda-los a melhorar de forma eficiente. O Chile criou uma prova de avaliação de conhecimento para os alunos que estão se formando em pedagogia, prestes a assumir uma sala de aula. Descobriu que 8% deles não tinha o conhecimento esperado para isso.
Barbara Bruns: os alunos mais pobres precisam dos melhores professores (Foto: Foto/ Divulgação)
ÉPOCA: E o terceiro ponto?

Barbara :  Incentivo. O Brasil precisa de professores mais motivados. Isso depende de uma boa supervisão de diretores, que entendam seus professores e os ajudem no que for preciso. São poucos os diretores brasileiros que fazem isso sistematicamente. Depende também de passar mais responsabilidade para esse professor. Um profissional se sente valorizado quando responsabilidades e é cobrado pelo seu trabalho. Essa é uma das maiores diferenças entre os sistemas do Brasil e de potencias educacionais como Cingapura, Japão e Finlândia. Nesses países, os professores se sentem muito competentes e orgulhosos da profissão. Eles passam muito tempo trabalhando juntos, dividindo boas ideias e práticas, de forma muito natural.  No Brasil, a maioria chega para dar aula e sai correndo quando bate o sinal. Não têm tempo para observar uns aos outros. Acredito que a maioria dos professores no Brasil tenta fazer seu melhor, mas, assim como acontece nos EUA, eles estão muito cansados e desanimados com as condições de trabalho. Eles reconhecem que não estão tendo sucesso na sua missão, que não têm a habilidade de ensinar e, o mais perigoso, eles desistem e culpam os alunos.
ÉPOCA: A senhora pôde observar isso no Brasil? Pode dar um exemplo?

Barbara : Eu me lembro de uma professora brasileira cuja aula acompanhei aula em setembro. Era uma escola de periferia, terceira serie. Era uma professora nova. Eles eram estudantes com problemas, estavam atrasados. O problema começa daí. Justamente por estarem atrasados deveriam ter designado a melhor professora da escola, não uma iniciante. De repente, no meio da aula, ela se dirigiu até mim e disse, na frente das crianças: “Esses meninos estão muito atrasados e nunca terão condições de aprender o que falta.”  Isso é intolerável. São sempre os estudantes pobres que sofrem mais, porque eles são os mais difíceis de ensinar. Se não tivermos professores que realmente acreditam neles e são treinados para ensina-los, então ficarão mesmo para trás.
ÉPOCA: E incentivos monetários?

Barbara : É uma motivação muito importante. Os salários precisam ser melhores. Mas, o mais importante, é que eles precisam ser de acordo com o desempenho de cada um. Temos muitos dados, muitas pesquisas do mundo inteiro mostrando que não dá certo, como incentivo, aumentar o salário igual para todo mundo. Ganha mais quem é melhor. É por aí que os jovens talentosos serão atraídos. Eles olham para a carreira do professor e percebem que podem ter uma vida confortável e um trabalho satisfatório. A Inglaterra fez isso. Washington DC fez isso, na reforma iniciada há cinco anos. Hoje, temos jovens que querem ser professores e não pensavam nisso cinco anos atrás.
ÉPOCA: Há uma forte discussão nos EUA e em outros países sobre a estabilidade de emprego dos professores. Ela dificultaria o sistema a se livrar dos professores ruins. O que a senhora acha?

Barbara : É preciso demitir quem não tem bom desempenho. Todos os professores, sem exceção, precisam de retorno, de apoio, de condições adequadas de trabalho para melhorar e se desenvolverem. Ser professor não é tarefa fácil.O interessante  é que nos EUA e na América Latina estão passando leis que dizem o seguinte: os professores precisam ser avaliados periodicamente, ter a oportunidade de melhorar, mas se isso não acontecer,  eles podem ser demitidos. Chile, Colômbia e México estão nesse caminho. Boa parte dos distritos americanos também. Isso afeta a atratividade da carreira. Manter os professores ruins e tratá-los como os bons espanta os jovens talentos.

domingo, novembro 02, 2014

Como combater a corrupção?

O segredo da Suécia para combater a corrupção

O que faz da Suécia um dos países menos corruptos do mundo? Entenda como desde a década de 70 só houve dois casos de corrupção política naquele país a nível nacional

suécia corrupção
Cidade de Gotemburgo, Suécia (Divulgação)
Texto da jornalista Claudia Wallin, retirado do livro ‘Um País sem Excelências e Mordomias’. No trecho abaixo, a jornalista entrevista Gunnar Stetler, responsável pela corrupção no país.
*
Gunnar Stetler franze a testa, pisca duas vezes e contrai os músculos do rosto, como quem faz um cálculo extraordinário. Percorre os labirintos da memória durante uma longa pausa, e encontra enfim a resposta: nos últimos 30 anos, ele diz, foram registrados apenas dois casos de corrupção entre parlamentares e integrantes do governo na Suécia.
”Tenho apenas uma vaga lembrança”, diz Stetler. ”É muito raro ver deputados ou membros do Governo envolvidos em corrupção por aqui.”
Estamos no escritório abarrotado de arquivos e papéis do promotor-chefe da Agência Nacional Anti-Corrupção (Riksenheten mot Korruption), no bairro de Kungsholmen. A poucos passos dali, na mesma rua Hantverkargartan, fica a sede da temida Ekobrottsmyndigheten, a Autoridade Sueca para Crimes Financeiros. Com o sol de abril que enfim derreteu o gelo de mais um inverno, do outro lado da rua mães passeiam com seus carrinhos de bebê entre os túmulos do jardim da igreja Kungsholmskyrka, um hábito comum que se estende a vários cemitérios-parque da cidade.
Da sua pequena sala, Gunnar Stetler chefia o trabalho de promotores especializados que investigam os principais casos de suspeita de corrupção no país. Casos menos graves são processados a nível regional, nas diversas promotorias distritais que compõem o cerco sueco contra trapaças, tramóias e falcatruas em geral.
Com 1,93m de altura, expressão grave e ar insubornável, Gunnar Stetler é descrito na mídia sueca como o maior caçador de corruptos do país. Entre os casos sob a sua mira em 2013 estava a denúncia de que a operadora de telefonia sueca TeliaSonera teria pago suborno no valor de 337 milhões de dólares para estabelecer operações no Uzbequistão.
”Historicamente, 75 por cento das acusações formais contra crimes de suborno na Suécia terminam em condenações”, diz Stetler.
Nascido em 1949, Stetler ganhou fama após conduzir casos como o de um ex-diretor da empresa sueca ABB, condenado a três anos de prisão em 2005 por ter desviado 1,8 milhão de coroas suecas para uma empresa registrada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas.
”Chega um momento em que uma pessoa não se contenta mais com um Volvo V70, e quer trocá-lo por um Porsche. A ganância é parte do dilema humano”, reflete Stetler.
Para o promotor-chefe, são três os fatores que mantêm a Suécia à margem das listas de países gravemente corruptos: a transparência dos atos do poder, o alto grau de instrução da população e a igualdade social.
O que faz da Suécia um dos países menos corruptos do mundo?
GUNNAR STETLER: Em primeiro lugar, a lei de acesso público aos documentos oficiais. Esta lei, criada na Suécia há mais de duzentos anos, evita os abusos do poder. Se os cidadãos ou a mídia quiserem, podem verificar meu salário, meus gastos e as despesas de minhas viagens a trabalho. Meus arquivos são abertos ao público. E acreditamos que, ao colocar os documentos e registros oficiais das autoridades ao alcance do público, evitamos que os indivíduos que exercem posições de poder pratiquem atos impróprios. Esta é a razão principal. Em segundo lugar, é preciso citar a lei aprovada na Suécia há cerca de 200 anos [em 1842, nota do autor], que introduziu o ensino compulsório no país e aumentou o nível geral de educação da população.
Qual é o impacto de uma população com maior grau de instrução na prevenção da corrupção?
GUNNAR STETLER: Se uma pessoa não tem acesso à educação, ela não tem condições nem de compreender e muito menos de fiscalizar o sistema. Na Suécia, acreditamos que uma sociedade se constrói não a partir do topo, mas a partir da base da população. Portanto, é preciso oferecer uma boa educação a todas as camadas da sociedade. A China tem um alto grau de corrupção, mas vem investindo na melhoria do nível de instrução da população. Creio que isto irá, de certa forma, reduzir a corrupção no país.
Com que frequência o seu telefone toca com denúncias de corrupção?
GUNNAR STETLER: Recebo cerca de quatro ligações do público todos os dias. Mas de cada 15 denúncias, em geral apenas uma tem base para caracterizar um caso. A maior parte dos casos se refere a questões de menor dimensão, como quando um funcionário público aceita viajar para um resort a convite de uma empreiteira a fim de facilitar um contrato. Se você é um funcionário público na Suécia, não está absolutamente autorizado a aceitar este tipo de convite. Lidamos também com casos de maior envergadura. Acabo de acusar formalmente um dos chefes do Kriminalvården (sistema prisional sueco), que recebeu subornos da ordem de milhões de coroas suecas de uma empresa contratada para construir penitenciárias. Trabalhamos com denúncias do público, da mídia e também de sistemas nacionais de auditoria, como o Riksrevisionen (órgão independente que controla as finanças das autoridades públicas na Suécia).
Qual é o nível de incidência de casos de corrupção política a nível nacional na Suécia, entre parlamentares e membros do Governo?
GUNNAR STETLER: É muito raro ver deputados ou membros do Governo envolvidos em corrupção por aqui.
Qual foi a última vez que isso ocorreu na Suécia?
GUNNAR STETLER: Se me lembro bem (pausa)…talvez tenham sido uns dois casos (pausa)…nos últimos (pausa)…trinta anos.
O senhor quer dizer que desde a década de 70 só houve dois casos de corrupção política a nível nacional?
GUNNAR STETLER: Sim.
Que casos foram esses?
GUNNAR STETLER: Se não me engano (pausa)…há cerca de dez anos (pausa)…um deputado do Parlamento, representante da costa oeste, cometeu um erro (pausa)…tenho apenas uma vaga lembrança.
Se o senhor tem apenas uma vaga lembrança sobre o que seriam os dois únicos casos de corrupção política a nível nacional nos últimos 30 anos, pode-se presumir que não tenham sido grandes escândalos?
GUNNAR STETLER: Sim. Em termos de corrupção política, casos mais sérios ocorrem principalmente nas municipalidades.
Mas a última vez que um político sueco foi condenado à prisão por corrupção foi aparentemente em 1995. Isso significa que o grau de corrupção política na Suécia não é em geral grave o suficiente para exigir pena de prisão, ou é um sinal de que o sistema é leniente com políticos corruptos?
GUNNAR STETLER: Na Suécia, em geral, toda punição é leniente.
Como assim?
GUNNAR STETLER: No sistema penal sueco, o princípio básico não é a punição, e sim a reintegração do indivíduo à sociedade. Esta é a nossa tradição. O código penal não prevê punição especialmente dura para casos de corrupção política.
Punições mais severas não são então a resposta para combater a corrupção política?
GUNNAR STETLER: Quem pune políticos corruptos é a opinião pública. Se um deputado ou um funcionário da administração estatal pratica um ato de corrupção, ele será punido severamente pela sociedade, principalmente por ter cometido um erro a partir de uma posição de poder. Um deputado, por exemplo, pode ser forçado a renunciar através da pressão da opinião pública e da mídia, mesmo quando não é indiciado formalmente.
Há alguma regra especial para investigar e processar políticos por crimes de corrupção, como a necessidade de obter aprovação do Parlamento ou de algum comitê?
GUNNAR STETLER: Não.
Cabe principalmente à mídia e aos cidadãos fiscalizar o poder, ou a instituições como a que o senhor dirige?
GUNNAR STETLER: Cabe, em primeiro lugar, à imprensa livre. Se a mídia tem acesso aos documentos oficiais, ela poderá agir, juntamente com os cidadãos, para garantir uma sociedade mais limpa. É claro que agentes oficiais, como a Agência Anti-Corrupção, também cumprem um papel importante. Presumo que talvez, no Brasil, os cidadãos não confiem em servidores públicos como eu. Mas na Suécia a maior parte das pessoas confia nas agências do poder público, e uma das razões disso é o fato de que os cidadãos podem supervisionar o que as agências fazem.
Como é o trabalho da Agência Nacional Anti-Corrupção?
GUNNAR STETLER: Nosso foco principal é o suborno. Pode-se dizer que o suborno, tanto na esfera pública como no setor privado, é um câncer para qualquer sistema. Mesmo quando o valor do suborno é muito baixo, ele pode influenciar uma licitação no valor de um bilhão de coroas suecas. No setor público, é importante que as compras de bens e serviços sejam realizadas de modo correto. A construção de um novo hospital, por exemplo, pode custar cerca de 1,7 bilhão de coroas suecas (cerca de 260 milhões de dólares). Quando uma agência do setor público lida com um contrato deste porte, é importante que haja uma distância entre a empresa que vai construir o hospital e os funcionários públicos que vão aprovar tal contrato. No meu ponto de vista, e penso que a maioria das pessoas na Suécia concorda, é essencial que funcionários públicos não aceitem ofertas ou presentes de nenhum tipo, mesmo os de baixo valor.
Os suecos em geral parecem realmente ter receio da regra que proíbe aceitar qualquer brinde ou presente com valor acima de aproximadamente 400 coroas suecas.
GUNNAR STETLER: Em geral, nenhum funcionário público ou privado na Suécia é autorizado a aceitar brindes ou presentes acima de 300 ou no máximo 400 coroas (entre cerca de 46 e 60 dólares). Na minha posição, não posso aceitar nada.
Nada?
GUNNAR STETLER: Não. Nem mesmo um café com wienerbröd (tipo de pão doce sueco). E não acho que políticos ou funcionários públicos na Suécia aceitam, em geral, o que é considerado como suborno real, ou seja, grandes subornos.
Não acontece?
GUNNAR STETLER: Pode acontecer, mas não é normal. A questão é definir o que é considerado como um suborno. Para alguns, aceitar um convite para jantar ou passar o fim de semana em um resort não configura um suborno. Mas na Suécia, convites deste tipo caracterizam de fato um suborno. Principalmente para aqueles que trabalham no setor público.
Aceitar um convite para jantar pode então ser considerado um crime?
GUNNAR STETLER: Na minha opinião, uma pessoa ou empresa privada não pode convidar um funcionário público para jantar, se há um negócio envolvido entre as duas partes.
Qual é o seu melhor conselho para um país como o Brasil se tornar uma sociedade mais limpa?
GUNNAR STETLER: É preciso compreender que esta é uma tarefa que não pode ser cumprida em 24 horas. Para combater a corrupção, é necessário implementar um sistema de ampla transparência dos poderes estatais, aumentar o nível de educação da população em geral, e promover a igualdade social. A educação é o princípio básico do que chamamos na Suécia de jämlikheten (a igualdade social). E este é também um fator importante na prevenção da corrupção. Parece-me que o Brasil é um país com enormes desigualdades sociais.
Qual a importância da igualdade social neste processo?
GUNNAR STETLER: Se uma pessoa tem que lutar diariamente por sua sobrevivência, para ter acesso a alimentação, escolas e hospitais, a questão do combate à corrupção na sociedade certamente não estará entre seus principais interesses. Mas quando uma pessoa se sente parte da sociedade à qual pertence, passa a não aceitar os abusos do poder.
FONTE: Pragmatismo Político
Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/o-segredo-da-suecia-para-combater-corrupcao.html