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sexta-feira, janeiro 02, 2009

A América no Século XXI: uma liderança para a "Era da Democracia?"

Por Lionês Araújo dos Santos*


O século XXI deu início a grandes acontecimentos para a história universal. Curioso é que, a América parece ter sido palco dos principais fatos que vão marcar as páginas da História do novo século que se inicia. Pelo menos no plano político e cultural.
Depois de o historiador britânico Eric Hobsbawn situar a historiografia em blocos históricos denominando-os de: “Era das Revoluções”, “Era do Capital”, “Era dos Impérios” e “Era dos Extremos” - expressões que demarcam novos períodos no interior da Idade Contemporânea e indicam como um conjunto de novas instituições sociais foram se formando, sobretudo nos séculos XIX e XX – é chegada a hora de lançarmos mão de mais um “arquétipo” para falarmos dos acontecimentos marcantes do novo século, o século XXI.
Talvez, um dos maiores acontecimentos desse início de século foi os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Nesse dia a América sofreu o seu maior golpe da história. Foi um atentado direto à vida e à soberania nacional. Junto com a América o mundo chorou a perda de vidas inocentes e permaneceu sob vigília para o que poderia acontecer no cenário político e econômico na maior potência mundial. Finalmente, as lágrimas secaram e 11 de setembro foi escrito nas páginas da história mundial como o dia em que o gigante foi golpeado fazendo o mundo inteiro tremer ao ouvir os seus gemidos.
O mundo não chegou ao século XXI dominado pelos dois grandes impérios dos Estados Unidos e da Rússia, como vaticinado pelo autor de “Democracia na América”, Alex Tocqueville. Somente a América resistiu como maior potência mundial. E, contrariamente ao que muitos pensam, acredito que muito dos acontecimentos mais recentes da América fortalecerá ainda mais o seu vigor interno e sua capacidade de liderança no plano internacional. A crise econômica atual, não deve ser motivo maior de preocupações. Pelo contrário, o otimismo das conquistas políticas mais recentes deverá prevalecer, o que contribuirá para superação da crise, para o fortalecimento de alianças e, consequentemente, o estabelecimento da paz entre as nações.
A vitória pacífica e esmagadora do presidente Barack Obama – um afro-americano descendente de família de parcos recursos econômicos – nos EUA, significa hoje, que a América está se consolidando cada vez mais como liderança nos ideais democráticos e humanitários. Apesar das atrocidades e derramamento de sangue vivido na “Era Bush” uma nova era parece se anunciar na América: a “Era Obama”.
O ano de 2009 se inicia com a conquista presidencial de Barack Obama, um líder negro que com garra e determinação venceu o preconceito e quebrou toda uma tradição de poder. Porém, devemos lembrar a importância de vários heróis que precederam à ousadia do homem que foi eleito neste século como a personalidade do ano pela conceituada revista norte-americana Time, e acaba de ser eleito como o mais poderoso do mundo pela revista Newsweek.
Há aproximadamente meio século o grande líder negro, Martin Luther King, empreendeu uma luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Em 1965 Luther King liderou uma das marchas que teve como uma das conseqüências a aprovação da Lei dos Direitos de Voto de 1965 que abolia o uso de exames que visavam impedir a população negra de votar. Luther King sonhou com um mundo mais humano, onde brancos e negros pudessem gozar dos mesmos direitos e conviver de forma pacífica. Em 04 de abril de 1968 King foi baleado e morto em Memphis, Tenessee, por um branco, mas seu sonho e ousadia sobreviveu em outras mentes inquietas às injustiças e ao preconceito. Vinte anos atrás, o pastor Jesse Jackson tentou pela segunda vez, sem sucesso, obter a indicação a candidatura presidencial pelo Partido Democrata. Finalmente, um líder negro chega ao poder daquele que é hoje considerado o maior país democrático e potência econômica do mundo.

É importante lembrar que não apenas os EUA, mas toda a América (norte a sul), nos últimos anos passou da era das tiranias e governos sangrentos autoritários para a era das democracias. E como lembrou o grande pensador político italiano Norberto Bobbio, na sua obra “O Futuro da Democracia” (1984), o avanço dos Estados democráticos representa um avanço significativo na consolidação da paz. Segundo Bobbio, Direitos do Homem, Democracia e Paz, são três momentos necessários do mesmo movimento histórico. Sem Direitos do Homem reconhecidos e protegidos não há Democracia e sem Democracia não existe as condições mínimas para a solução pacífica de conflitos.
Finalmente, presenciamos evidências de respeito e dignidade da pessoa humana, onde a cor da pele e o status econômico não são mais prerrogativas para garantia e exercício de direitos. A vitória presidencial de um afro-americano nos EUA, a eleição de um mestiço indígena na Bolívia e os dois mandatos de um torneiro mecânico aqui no Brasil, por certo, já são fatos marcantes no avanço e na consolidação democrática.
Talvez, ao modo de Hobsbawn, podemos dizer que no século XXI, já na sua primeira década, possa ser utilizada a expressão: “A Era da Democracia” para designar esses novos acontecimentos marcantes da contemporaneidade. Bem vindo o ano 2009! Bem vinda a “Era da Democracia” na América!


* Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: http://www.ciberfuturo.blogspot.com/