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sábado, setembro 13, 2008

Geração Players

Não. Não é exclusivamente da geração de players portáteis digitais que trata esse artigo. Trato aqui, especialmente da nova geração de indivíduos deste século XXI, a qual, chamo aqui de “geração players”. Antes, contextualizarei um pouco a questão.
No século passado o grande pensador genebriano, Jean Piaget, escrevia seus estudos de Psicologia Genética no qual organizava o desenvolvimento cognitivo da criança. Piaget descreveu as várias fases do desenvolvimento da criança de forma cronológica. Destacou a capacidade de aprendizagem e as habilidades operacionais alcançadas em cada uma das quatro fases principais enumeradas. Piaget chamou essas fases de: sensório motor, pré-operacional, operatória concreta e operatória formal. Para Piaget, até a fase operatória concreta, aos 11 anos, as crianças não teriam capacidade de operarem tarefas complexas e tampouco compreensão da propriedade transitória nas relações. Apenas a partir dos 12 anos de idade é que teriam capacidades cognitivas, de desenvolvimento do raciocínio lógico, abstrato, e habilidades na criação de hipóteses para resolução de problemas. Com seu trabalho, Piaget revolucionou os estudos sobre a concepção de inteligência e habilidades.
Não é intenção aqui desqualificar os estudos do grande pensador. Até mesmo porque como bem reconheceu Piaget; a vida é um aprendizado constante, desde o nascimento até a morte. O que coloco aqui em questão é: a contemporaneidade exige uma reflexão sobre o que é ser criança e o que são habilidades cognitivas e operacionais nesse novo cenário mediado pelas tecnologias e pela comunicação.
Nos últimos dois anos venho observando a relação das crianças e adolescentes com as novas tecnologias em relação a seus pais e avós e, percebo que; crianças de 11 anos, apresentam habilidades e capacidades cognitiva muitas vezes superiores aos adultos. Já presenciei alguns casos que me deixaram perplexo. Casos por exemplo; de crianças manusearem aparelhos eletrônicos explorando toda sua funcionalidade e, muitas vezes, até indo além, projetando novas possibilidades numa verdadeira dinâmica criativa. Enquanto isso, seus pais e avós encontram dificuldades de verificar as mensagens do celular ou checar os e-mails no computador.
Já é lugar comum o discurso de que cada um de nós deve despertar a criança que existe dentro de si. Nas empresas, os treinamentos de motivação repetem sempre que as pessoas devem ser mais criativas, mais ousadas e mais flexíveis às mudanças. Pois, nestes novos cenários de instabilidades econômicas e mudanças drásticas dos últimos anos, novas práticas devem ser adotadas.
De fato, o mundo mudou. Envelhecemos. Abandonamos a criança que existe dentro de cada um de nós. Essa criança talvez seria aquela que Piaget descrevia como sendo ainda pouco dotada de capacidades cognitivas e habilidades práticas mas que estaria na fase da curiosidade e da descoberta do pensamento e do mundo. Talvez seja essa criança que hoje precisaríamos neste novo mundo permeado por redes de comunicação e pela tecnologia, onde o novo, o desconhecido, aparece e nos deixa perplexos.
Precisamos aliar a experiência de vida - de um mundo estável e “seguro” que já não existe mais - à criatividade dos adolescentes e das crianças desse novo mundo da tecnologia, das mudanças constantes e de incertezas.
Talvez, mais do que a experiência, o mundo atual exige a criatividade. É por isso que os adultos, muitas vezes encontram dificuldades para operarem nele. A experiência e o saber acumulado ao longo da vida já não são suficientes frente a alguns eventos imprevisíveis. Nessa hora é preciso a criatividade entrar em ação. É preciso estar disposto a aprender novas habilidades. Agir como uma criança em fase de descoberta da vida e do mundo.
Percebe-se que os adolescentes e as crianças de hoje reúnem qualidades essenciais para habitar o mundo contemporâneo. Seus pais envelheceram. Não querem acreditar que o MSN possui maior rapidez de comunicação e funcionalidades que a carta tradicional, ou que o iPod 3G é mais funcional que o antigo radinho de pilha.
O mundo atual, da inovação tecnológica, da rapidez de circulação da informação e exigência de aprendizagem e atualização constante é das crianças e adolescentes. Eles já operam bem nele. Manuseiam iPhones 3G, iTunes 8, iPods Shuffle e Nanos e parecem estarem bem dispostos a conhecer o último lançamento tecnológico.
Para surpresa de Piaget, as capacidades cognitivas das crianças e adolescentes atuais parecem demonstrar que eles estão preparados para desenvolver as habilidades e dispostos a manusearem os próximos lançamentos de players portáteis digitais.
Na era da internet, do iPod Nano, do MP4 e dos telefones celulares Piaget se revira no túmulo...e a Psicologia Genética se foi! Ainda no início do século XXI nasce a “geração players”!

Lionês Araújo dos Santos é Mestrando em Estudos de Comunicação e Cultura Contemporânea – ECCO pela UFMT e bolsista da CAPES. Blog: www.ciberfuturo.blogspot.com